Entrei no metrô e ele estava cheio, como
sempre. Mas estava suportável. Entre mim e o sujeito a minha frente, ainda
havia uma distância respeitável de cerca de meio metro. Enquanto a viagem
corria, ouvia tranquilo minhas velhas bandas de rock progressivo.
Viajava no meu som quando o sujeito a minha
frente fez um sinal com as mãos e me disse alguma coisa. Tirei o fone do meu
ouvido e perguntei sem muita simpatia:
__ Você disse alguma coisa?
__ Sim... Hoje o metrô não está tão cheio,
né?
__ É... mas pode piorar...
Nem ouvi a resposta do sujeito direito e
botei o fone de novo. Meu rock, com certeza, era muito melhor que o papo à toa
daquele cara esquisito que nunca vi na vida. Nem pra ser uma mulher bonita puxando
papo. Pensei.
Quando chegamos à estação shopping, como
previsto, o vagão ficou completamente lotado. E o sujeito chegou muito mais
perto. Muito mais. Para meu desespero, se encostou em mim. Não tinha como
fugir. O vagão estava muito cheio. E o que é pior: aquele cara estranho
encostou suas mãos nas minhas partes baixas.
Naquele momento, não sabia o que fazer: se
gritava, se batia no cara, se saía correndo do vagão. Fiquei perplexo.
Como havia dito alguns minutos atrás: mas
pode piorar. E o que já era ruim piorou muito. Além de encostar sua mão nas
minhas partes baixas, o sujeito deslizou a mão maliciosamente por cima da minha
calça. Aí não aguentei e gritei:
__ Poxa cara! Pode parar que não sou disso!
Tire sua mão de mim!
O sujeito ficou todo sem graça e saiu de
perto de mim pedindo mil desculpas e dizendo que foi sem querer.
Não falei mais nada. Não olhei para mais
ninguém. Aumentei o volume do meu rock e passei o resto da viagem com cara de
poucos amigos.
No outro dia, já refeito do susto, fui contar
o caso ocorrido para meu amigo de trabalho, que senta ao meu lado no
escritório. Contei a estória na maior descontração, dando boas risadas do
acontecido. Quando acabei de contar, ele me encarou, olhou nos meus olhos e
disse com um sorriso dissimulado no canto da boca:
__ E aí, o cara era bonito?
Fiquei perplexo novamente. Arregalei meus
olhos. Abri a boca até não poder mais. Levantei um dedo e ameacei responder,
mas não saiu nada. Naquele momento de desespero, só um pensamento veio a minha
cabeça confusa: mas pode piorar...