sábado, 27 de abril de 2013

Seu rosto visto de costas


Você que está na correria da estação do metrô, pode olhar.
Você que está no banco da praça, vendo o movimento da rua agitada, também pode.
Você que está na fila do banco, pensando nas suas contas para pagar, olhe também.
Pessoas de todo o mundo, não tenham vergonha: bundas foram feitas para serem vistas.
Afinal, de nada valeria toda a produção, as horas perdidas nas academias, se as bundas não fossem admiradas, queridas e desejadas.
Drummond, certa vez, disse num poema:
“Não lhe importa o que vai pela frente do corpo. A bunda basta-se.”
Mais do que isso, acredito que uma bunda diz muito de seu dono. O caráter de uma pessoa pode ser perfeitamente identificado por sua bunda. Podem estar certos do que vou dizer: sua bunda fala muito de você.
Há pessoas de bunda murcha, sem expressão, caída. São pessoas sem confiança, desanimadas, tristes com a vida.
Por outro lado, há pessoas de bunda empinada, chamativa, fazendo um ângulo perfeito com o início das costas e o fim das pernas. Tenho certeza: foi daí que o Niemeyer tirou a feliz ideia para suas famosas colunas. Pessoas assim são decididas, cheias de si, com a autoestima a todo vapor.
Há pessoas de bunda discreta, que tem potencial, mas que procuram não demonstrar. São as pessoas acima da média. Bem sucedidas profissionalmente e reconhecidas por sua inteligência. Mas com uma qualidade ainda maior: a simplicidade.
Há pessoas com a bunda bonitinha, perfeitinha, não muito grande, mas que temos a vontade irresistível de morder na hora que vemos. São pessoas carismáticas, doces e envolventes.
E por aí vai. Cada bunda é um rosto visto de costas.
Não tenham vergonha: procurem observar ainda mais as bundas, todas que puderem. Cada bunda traz a sua surpresa.
Tirem a prova do que estou falando, olhar para as bundas alheias faz bem.
 

domingo, 14 de abril de 2013

Ouro de Tolo


OURO DE TOLO
 
Raul Seixas dizia, com uma sabedoria cortante, em sua bela letra ‘Ouro de Tolo’:
“É você olhar no espelho
Se sentir
Um grandessíssimo idiota
Saber que é humano
Ridículo, limitado
Que só usa dez por cento
De sua cabeça animal...
E você ainda acredita
Que é um doutor
Padre ou policial
Que está contribuindo
Com sua parte
Para o nosso belo
Quadro social...”
É difícil dizer qualquer coisa de útil depois das palavras do velho Raul. Mesmo assim, vou cometer tal atrevimento.
Todos nós sabemos que somos limitados, falíveis e mortais. Mas muitos de nós nos esquecemos disso e nos comportamos, pelo contrário, como se fôssemos ilimitados, infalíveis e imortais. Enfim, nos achamos perfeitos.
E para reforçarmos nossa iludida perfeição, atacamos os supostos defeitos dos outros de forma implacável:
“Ele é careca”
“Ela fala tudo errado”
“Ela chega atrasada”
“Ele usa meias coloridas e, portanto, é viado”
Ele é ruim de serviço
Etc e tal
Mas não somos capazes de ver as nossas fraquezas, limitações e falhas. Nunca olhamos nosso espelho com a sinceridade que julgamos.
Jesus, com mais sabedoria ainda, disse: “Por que olhas a palha que está no olho do teu irmão e não vês a trave que está no teu?” Mateus 7,3.
Perdemos tanto de nosso precioso tempo procurando defeitos nos outros. Seria muito mais útil se usássemos esse mesmo tempo para procurar os nossos defeitos e tentarmos acabar com eles.
Diz a lenda que César, grande imperador de Roma, quando voltava de suas vitoriosas campanhas militares, sempre desfilava pelas ruas de Roma para ser aplaudido pelo povo. Era o seu grande momento de glória. Mesmo assim, para evitar os perigos da vaidade exagerada, tinha consigo sempre um criado que ficava soprando aos seus ouvidos: você venceu, mas você é careca, é feio e vai morrer.
Não temos como saber se isso é verdade, mas como seria bom se tivéssemos, também, alguém parar falar assim com a gente, para que a gente entenda que não somos perfeitos e que da mesma forma ninguém pode ser. Perfeito, só Deus. Só Deus...
A vaidade é ouro de tolo. Não tem valor algum. Não é boa, nem verdadeira, nem justa. A vaidade nos vence por dentro.
Vamos nos preocupar com a vida e com o que ela tem de bom.
O resto é só ouro de tolo...

sábado, 6 de abril de 2013

Ser pai

 
            Vou falar de um assunto bastante comum à maioria das pessoas. Mas que para mim, tem sido uma grande novidade: ser pai. Ser pai pela primeira vez! Pode soar batido, mas é a maior emoção da minha vida! Principalmente, quando esse pai aqui é um filho único, não acostumado com a rotina dos bebês. Estou vivendo um universo novo, de grandes aprendizados, emoções e descobertas.
            Gente, nada nesse mundo pode ser maior do que chegar a minha casa cansado de um dia de trabalho e ser recebido com um olhar decidido de um bebê, que me olha com a maior concentração, como se eu fosse a pessoa mais importante do mundo. E depois desse olhar, vem um sorriso capaz de limpar todas as minhas angústias, mágoas e preocupações. Um sorriso que me faz criança de novo.
            Depois desse sorriso, essa criaturinha de não mais de cinco quilos, faz caras e bocas, mexe as pernas e os braços e me hipnotiza de uma maneira que nem sei explicar. O que sei é que diante desse sopro de vida, tão frágil, tão puro, tão simples, eu me sinto a pessoa mais forte e feliz do universo.
            E aquele homem que achava que sabia muitas coisas, graduado, pós-graduado, etc e tal, se vê diante de tarefas tão simples (ao mesmo tempo tão complicadas) como dar banho, trocar fraldas, trocar roupas, botar para arrotar, ninar e cantar músicas infantis. São essas tarefas simples que não movem a máquina do mundo e que não geram lucros, mas que agora são as minhas mais importantes, as que têm de ser realizadas no exato momento, pois o meu bebê não pode esperar e ele, agora, é a razão de tudo.
            E quando menos espero, vem um choro desesperado, como se o mundo estivesse acabando. E eu, pobre homem-maduro-menino-inexperiente fico sem saber o que fazer. Mas do nada, ela para, olha para mim, sorri e o meu mundo todo é dela. Pois nada nessa vida pode ser mais importante que o sorriso de uma criança.
            E o meu tempo, tão valorizado, tão aproveitado, tão cheio de mil tarefas, não é mais meu. Existe alguém que sem dizer qualquer palavra manda no meu tempo. Alguém que tem o seu próprio tempo e resolve acordar às duas horas da madrugada para descobrir o mundo, que nesse caso é só um pequeno apartamento e alguns modestos quadros, que ela olha como uma especialista no assunto, com a curiosidade dos grandes artistas. E ai de mim se demonstrar cansaço e procurar um lugar para sentar. Ela quer descobrir o mundo, pois sua energia está a mil, às duas horas da madrugada.
            Mas quem aqui se importa com as noites mal dormidas, se há sorrisos tão belos, pequenos gemidos, suaves gestos, olhares encantadores, um gostoso cheiro de vida nova, que me recompensa por todo o esforço. Afinal, o tempo passa tão rápido e não volta mais. Eu quero, preciso e vou aproveitar todos esses momentos, pois o contato com minha filha é o maior de todos os presentes de Deus. E essa fantasia toda de ser pai está apenas começando...