À
meia luz da janela de um avião, ouvindo um sotaque gostoso e falando de
assuntos diversos, dos reais aos imaginários, uma viagem que se prometia longa
e cansativa, fica curta e interessante.
Às
vezes, nas idas e vindas de nossa vida corrida, encontramos por acaso pessoas
interessantes que trocam algumas palavras conosco. Pessoas que nunca vimos.
Pessoas tão distantes fisicamente. Mas, ao mesmo tempo, pessoas tão próximas em
estilo que comungam de uma visão de mundo irmã da nossa.
Isto
acontece muito comigo. Nos lugares mais diversos, sempre aparece alguém vindo
do nada para conversar, seja no metrô, no ônibus, no avião, no elevador ou numa
fila qualquer. Talvez, porque eu goste de conversar. Talvez, porque eu tenho
curiosidade sobre as pessoas. Não sei. Mas isso sempre acontece comigo. A
pessoa chega meio tímida, troca um oi e começa a falar. Em questão de minutos,
conta toda sua vida. Às vezes, em questão de minutos, fica sabendo de toda a
minha vida também.
Não
tenho problemas com isso. Minha vida não tem segredos. Acho até bom dividir
minhas angústias e alegrias. Às vezes, a opinião de alguém de fora que nunca me
viu me faz muito melhor do que a opinião viciada de alguém que convive comigo
todos os dias. Estes breves encontros são como consultas gratuitas num
psicólogo. Fazem-nos bem. Saímos deles muito melhor do que entramos.
Pena
que, às vezes, ficamos com vontade de encontrar a pessoa novamente. Sentimos
saudades daquela conversa tão agradável, dos sorrisos e da troca rápida e inesperada
de vidas. Ficamos com falta daquela visão de mundo tão parecida com a nossa. E
até pensamos: não estou sozinho neste mundo de malucos! Mas aí, nos vem a dura
realidade: provavelmente, nunca mais veremos tal pessoa.
Mesmo
assim, um pouco de seu sotaque gostoso ficou para sempre em nossa memória...