O escritor inglês George
Orwell, do alto de sua notável inteligência e senso de justiça, no conturbado
início do século XX, disse: “a máquina, o
gênio que o homem impensadamente deixou sair da garrafa e não consegue colocar
de volta.” Eu, neste maluco início do século XXI, atualizo a sua frase e
digo: a tecnologia, o gênio que o homem impensadamente deixou sair da garrafa e
não consegue colocar de volta, quer nos dominar completamente.
Eu já disse aqui que a
minha avó criou seus oito filhos na roça, sem energia elétrica,
sem geladeira, sem televisão, sem telefone, sem computador e sem internet. Eu
não estou falando do distante século XIX, mas da segunda metade do século XX!
Hoje é praticamente impossível para nós, os modernos do século XXI, imaginarmos
um mundo sem celular e internet.
Basta andarmos pelas ruas
de nossas cidades. Basta entrarmos num transporte público. Basta observarmos o
mundo a nossa volta. Não veremos uma pessoa sem um aparelhinho altamente
tecnológico nas mãos. Morando na capital deste Brasil, um país ainda
considerado selvagem por muitos, esquecido aqui neste quente e distante
planalto central, circulando de metrô, vejo todos os dias, o grande fascínio
por estas maquininhas. É um senhor que joga. É a mocinha que escuta música. É o
executivo que checa seus emails. Tudo muito simples, ao toque dos dedos.
Meu celular não é
sensível ao toque, não acessa a internet, não tem grandes recursos. Sou mesmo
um atrasado. Minha televisão é em cores. Para mim, só isto basta. Mas ela não é
tela plana, não é HD, não é 3D. Sou um completo atrasado no meu próprio tempo.
Quando começo a me acostumar com as novidades, elas já estão defasadas. A todo
instante, as novidades nos atropelam. E eu fico aqui num estado de completa
perplexidade com o nosso tempo.
Veja, abaixo, a definição
de um celular no século XXI:
O iPhone é um smartphone
com funções de ipod, câmera digital, internet, mensagens de texto (SMS), visual
voicemail, conexão wi-fi
local e, atualmente, suporte a videochamadas (FaceTime). A interação com o
usuário é feita através de uma tela sensível ao toque.
Mas eu só preciso de um
aparelho que fale, tenha uma agenda e passe mensagens...
Veja, então, o que é uma
TV hoje em dia:
TV 63" Plasma 3D Full HD - (1.920x1.080 pixels) Media
2.0 (Internet@TV, DLNA Wireless e USB 2.0) UltraSlim (3,6cm) c/ Decodificador
p/ TV Digital Embutido (DTV), 600Hz, Conversor 2D p/ 3D, Função REC Extended
PVR, 4 Entradas HDMI, 2 Entradas USB 2.0 e Entrada PC.
Sinceramente, não sei nem
o que é a maioria destas definições. Eu só preciso de uma TV com boa imagem em
cores, para eu assistir ao jogo do meu Cruzeiro. Só isto me basta.
Mas depois que a gente se
acostuma com uma novidade tecnológica, pronto, não se consegue mais viver sem
ela. É aí que mora o grande perigo: o risco da dependência tecnológica, tão
comum em nossos dias. Não conseguimos nem sequer imaginar o que seria o nosso
mundo sem estes maravilhosos aparelhos. Como minha avó conseguiu?
Quando fiz meu primeiro
curso de computação, a menos de vinte anos, a frase inicial do professor foi:
__ Este aqui é um
computador. Não precisamos ficar com medo, pois ele é apenas uma máquina burra.
Os inteligentes aqui somos nós.
Saudosos e felizes
tempos.
Outro dia li que o ser
humano está em acelerado desenvolvimento de computadores mais inteligentes que
nós. E não apenas isso, na mesma reportagem os cientistas disseram que os
computadores serão tão sentimentais quanto os humanos.
Isto é assustador!
Imaginar um computador mais inteligente que eu não é assim tão difícil. Mas
imaginar uma máquina mais sentimental do que eu, com minhas crises de carência
afetiva, é totalmente impensável para mim.
São os seres humanos
querendo brincar de Deus, o que acontece desde os tempos da Torre de Babel,
Gênesis 11, 1-9.
Prefiro ficar por aqui
com o nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, que tão bem disse no seu
poema “O sobrevivente”:
Um sábio declarou a O Jornal que ainda
falta muito
Para atingirmos um nível razoável de cultura.
Mas até lá, felizmente, estarei morto.
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