Esta
é a frase da semana, dita pelo atacante Herrera, do Botafogo, após marcar três
gols na vitória de seu time contra o São Paulo, por 4 x 2, na estreia do
Campeonato Brasileiro de Futebol, no último domingo no Rio de Janeiro.
Já
virou tradição: quando um jogador marca três gols numa partida de futebol
dominical, na saída de campo, é cercado por um entusiasmado jornalista da Rede
Globo de Televisão e tem o direito (ou seria dever?) de pedir uma música para o
programa Fantástico, a ser tocada no fim da noite.
Mas,
Herrera, contrariando a toda poderosa Rede Globo, lascou sem medo:
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Música pra quê?
O
repórter, assustado com tamanha ousadia, ainda insistiu:
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Fez três gols, tem o direito de pedir uma música!
O
inflexível Herrera manteve sua opinião:
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Eu não quero pedir música não.
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Nem em castelhano?
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Não, nenhuma.
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Portanto... o Herrera não quer pedir música.
Finalizou
um frustrado repórter, como se estivesse diante de um bandido. Como se fosse
proibido pensar diferente. Como se fosse proibido falar não à “toda poderosa”.
Trata-se,
claro, de uma mera bobagem: uma entrevista de um jogador de futebol na saída do
campo. Invariavelmente, todos dizem as mesmas coisas, com os mesmos erros de
português e os mesmos cacoetes de coçar o nariz ou o cabelo. Todos, ao marcarem
três gols num jogo, saem sorridentes de campo e vão logo de encontro ao
jornalista global para pedirem suas músicas de gostos duvidosos: sertanejo,
pagode ou evangélica.
Mas,
neste fim de tarde de domingo, algo de diferente aconteceu: em primeiro lugar, Herrera
fez três gols. Só isso já seria um motivo para surpresa. Herrera não chega a
ser um goleador, mas apenas um atacante esforçado. Em segundo lugar, apesar dos
três gols, saiu de campo de cara amarrada. Muito mais do que isso, Herrera
deu-nos uma grande lição: é possível, meus amigos, ser diferente neste nosso mundo
tão massificado e capitalista.
É
possível não ser só mais um. Por mais que queiram ditar nosso comportamento,
nossas palavras, nossas roupas e nossos gostos. Ainda é possível pensar, falar
e agir diferente. É possível, por mais difícil que nos pareça, ser autêntico
neste mundo dos iguais.
Parabéns,
Herrera! Se não fosse argentino, pediria seu nome na Seleção.
Estamos
precisando de jogadores autênticos na nossa Seleção. Mais do que isso: estamos
precisando de gente autêntica nas nossas vidas.
Mas
que pena, Herrera é argentino. Não podia mesmo ser perfeito, este garoto de
personalidade!