sábado, 26 de maio de 2012

Música pra quê?


                        Esta é a frase da semana, dita pelo atacante Herrera, do Botafogo, após marcar três gols na vitória de seu time contra o São Paulo, por 4 x 2, na estreia do Campeonato Brasileiro de Futebol, no último domingo no Rio de Janeiro.
                        Já virou tradição: quando um jogador marca três gols numa partida de futebol dominical, na saída de campo, é cercado por um entusiasmado jornalista da Rede Globo de Televisão e tem o direito (ou seria dever?) de pedir uma música para o programa Fantástico, a ser tocada no fim da noite.
                        Mas, Herrera, contrariando a toda poderosa Rede Globo, lascou sem medo:
                        __ Música pra quê?
                        O repórter, assustado com tamanha ousadia, ainda insistiu:
                        __ Fez três gols, tem o direito de pedir uma música!
                        O inflexível Herrera manteve sua opinião:
                        __ Eu não quero pedir música não.
                        __ Nem em castelhano?
                        __ Não, nenhuma.
                        __ Portanto... o Herrera não quer pedir música.
                        Finalizou um frustrado repórter, como se estivesse diante de um bandido. Como se fosse proibido pensar diferente. Como se fosse proibido falar não à “toda poderosa”.
                        Trata-se, claro, de uma mera bobagem: uma entrevista de um jogador de futebol na saída do campo. Invariavelmente, todos dizem as mesmas coisas, com os mesmos erros de português e os mesmos cacoetes de coçar o nariz ou o cabelo. Todos, ao marcarem três gols num jogo, saem sorridentes de campo e vão logo de encontro ao jornalista global para pedirem suas músicas de gostos duvidosos: sertanejo, pagode ou evangélica.
                        Mas, neste fim de tarde de domingo, algo de diferente aconteceu: em primeiro lugar, Herrera fez três gols. Só isso já seria um motivo para surpresa. Herrera não chega a ser um goleador, mas apenas um atacante esforçado. Em segundo lugar, apesar dos três gols, saiu de campo de cara amarrada. Muito mais do que isso, Herrera deu-nos uma grande lição: é possível, meus amigos, ser diferente neste nosso mundo tão massificado e capitalista.
                        É possível não ser só mais um. Por mais que queiram ditar nosso comportamento, nossas palavras, nossas roupas e nossos gostos. Ainda é possível pensar, falar e agir diferente. É possível, por mais difícil que nos pareça, ser autêntico neste mundo dos iguais.
                        Parabéns, Herrera! Se não fosse argentino, pediria seu nome na Seleção.
                        Estamos precisando de jogadores autênticos na nossa Seleção. Mais do que isso: estamos precisando de gente autêntica nas nossas vidas.
                        Mas que pena, Herrera é argentino. Não podia mesmo ser perfeito, este garoto de personalidade!

sábado, 19 de maio de 2012

Do rio Amazonas ao sorriso de Angelina


                        Na correria do dia-a-dia, muitas vezes, saímos de casa com o dia amanhecendo e voltamos tarde da noite. Exaustos, não queremos saber de mais nada. Nossa cama é o refúgio tão merecido. Apesar das recomendações médicas, dormimos bem menos do que precisamos. Mesmo pouco, uma boa noite de sono é tudo de bom. No meu caso, contudo, nunca é o suficiente. Eu quero sempre dormir mais. Quando o infame despertador toca, é uma lástima! Desperto do maravilhoso mundo dos sonhos para a dureza da realidade sem fantasia.

                        Uma boa noite de sonhos pode superar uma vida inteira de realidade. O sonho é infinito. Nele, tudo é possível. Do nada, me encontro conversando com meu avô falecido, falando de futebol. Ele está sorridente, sua cor é boa e aparenta saúde. Conversamos alegremente. De repente, sou acordado por um pernilongo insistente. Cadê meu avô? Cadê meu avô? Procuro em vão. Ele faz parte do mundo de meus sonhos. Volto a dormir na firme esperança de retomar a conversa com meu avô. Nada. Sou transferido para outro mundo imaginário, na categoria dos horríveis pesadelos. Estou num pequeno barco, acompanhado de um antigo amigo da faculdade que não vejo há tempos. Estamos no meio do rio Amazonas, que eu não conheço pessoalmente, enfrentando uma grande turbulência. Peixes enormes pulam por cima de nosso modesto barco. O grande rio está muito agitado e vem vindo um temporal. Estamos sem controle e, logo à frente, aproxima-se uma gigantesca queda d’água. O desespero é total e vamos em grande velocidade ao encontro da morte.

                        Sou acordado por um barulho lá fora. Felizmente! Estou suado, cansado e com a camisa molhada. Saio da cama e vou tomar um copo d’água. Cadê meu amigo da faculdade? Sumiu nas águas imaginárias. Pelo menos, ainda são três horas. Vou dormir com a expectativa de que o pesadelo não volte. Voltou. Agora, o pequeno barco começa a vazar e somos atacados por jacarés famintos. Não sabemos o que fazer. No desespero, meu amigo cai na água e é atacado pelos jacarés. Eu continuo lutando contra o buraco que insiste em aumentar. A situação é desesperadora! Sou acordado novamente por um pernilongo. Bendito pernilongo! Nunca antes fiquei tão feliz em ver um pernilongo! Nada de jacarés, ainda bem!

                        Mudo de posição na cama, para tentar esquecer o pesadelo. Funciona. Em minutos, já estou noutra fantasia, visitando o Cristo Redentor, na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro. O céu está azul e tudo é lindo demais! Estou só e tiro fotos distraidamente. De repente, sou abordado por ela. Não! Vocês não vão acreditar! Toca o meu ombro com dedos longos e delicados e me pede ajuda para tirar algumas fotos. Fico sem voz. Diante de mim: Angelina Jolie e aquela sua boca, digamos, assim, irrecusável... Ela está só. Começamos a conversar. Não me pergunte como, pois eu não sei falar inglês. Talvez, ela saiba falar português! Sua simpatia para com este pobre e medíocre sulamericano é impressionante. Ela gosta de fazer caridade, pensei! Ainda bem! Conversamos sobre tudo: literatura, cinema, política, futebol. Até mesmo futebol! E ela é torcedora do Flamengo! No meio da animada conversa, ela me convida para lhe fazer companhia pela cidade. Eu aceito, claro! Pouco depois, estamos num sofisticado restaurante de Copacabana. É difícil de acreditar, mas ninguém reconhece a Angel! Com o avançar da conversa, ganho intimidade. O clima é de romance e acho que vai rolar...

                        Toca o despertador...

                        Não vou dizer para vocês com que cara olhei para o despertador! Tem coisas que as palavras não conseguem expressar. Talvez, seja melhor assim. Normalmente, me levanto de mau humor. Eu sempre quero dormir um pouco mais. É bastante recomendável, inclusive, não conversar comigo na primeira hora do dia. Neste dia, porém, passado o susto inicial, achei melhor recordar meus belos sonhos. Tive até sorte, pois tem dia que a gente acorda de uma noite de sonhos e só se lembra dos pesadelos. Hoje, felizmente, não. Estou me lembrando perfeitamente dos meus sonhos! É tão bom rever o meu avô, com um sorriso no rosto. Os olhos e a boca de Angelina, então, são inesquecíveis! Ah, não vou nem contar os detalhes! Passarei o dia com um sorriso maroto nos lábios. Se alguém me perguntar pelo sorriso, mudo de assunto e vou falar de futebol.

                        Ninguém vai acreditar mesmo.