sábado, 8 de dezembro de 2012

Esse cara sou eu

                        Como de costume, a nova música do Roberto Carlos “Esse cara sou eu” tem feito o maior sucesso. De maneira um pouco diferente, tem feito muito sucesso na internet, reduto dos mais jovens, não tão acostumados com as letras românticas do Rei. Alguns até gostam, mas a grande maioria faz piada com a letra, dizendo que o “cara” é obsessivo, pegajoso, ciumento, dominador, chato, entre outras “qualidades”. Tem uma versão, inclusive, que encerra sugerindo: “fuja do cara”.
                        Nada de surpreendente. Nos dias de hoje, é assim mesmo: ser romântico está fora de moda. Na moda mesmo é ter um bom carro, usar roupas de grife, viajar para o exterior, escutar música eletrônica, fazer academia todos os dias, viver cercado de aparelhos eletrônicos e outras coisas do tipo. Ser romântico, definitivamente, é coisa do passado.
                        Mas eu não tenho mesmo jeito, por gostar tanto das causas perdidas, sou romântico. Sou daqueles de ler e declamar velhos sonetos de Vinícius de Morais. Sou daqueles de ouvir as músicas do Roberto Carlos. Sou daqueles de me emocionar com antigos filmes de amor.
                        Estou fora de moda, eu sei, mas ainda acredito na delicadeza de um beijo na mão. Estou fora de moda, eu sei, mas ainda corro para abrir a porta do carro para a minha amada. Estou fora de moda, eu sei, mas gosto de mandar flores. Não tenho vergonha de ser romântico, de me mostrar apaixonado, de ligar para a pessoa toda hora, de dizer que estou com saudades, de dizer a cada momento: te amo.
                        Gosto de andar de mãos dadas. Gosto de dançar na chuva. Gosto de ter uma música para chamar de nossa. Gosto de dar pequenos presentes para ganhar belos sorrisos. Gosto de ser intenso. Gosto de estar apaixonado.
                        A frase “te amo” na minha boca não precisa de um momento, de cerimônia, de tempo de convivência, de um clima perfeito. A frase “te amo” na minha boca foi feita para ser dita e ser ouvida. Foi feita para o hoje. Foi feita para fazer a outra pessoa feliz. Não tenho vergonha nenhuma de confessar: adoro dizer “te amo”.
                        Por tudo isso, esta música do Roberto Carlos me tocou bastante, pois fala de um romantismo que é tão meu, que eu gosto muito.  Podem até me chamar de chato, de obsessivo, do que quiserem, mas acho que este cara sou eu.
 

sábado, 24 de novembro de 2012

Rituais

                        Todos nós temos nossos rituais. O ser humano gosta de rituais. Dos mais simples aos mais sofisticados. Dos rituais em grupos aos individuais. Dos sagrados aos profanos. Todos nós temos os nossos rituais.
                        Há os rituais sagrados, que muitas vezes nem sabemos os motivos, mas participamos, admiramos e acreditamos. Pode ser um incenso ao redor do altar, os joelhos flexionados em determinada hora e uma vela que se acende num certo dia. Tudo são rituais e nós precisamos deles. Os rituais nos fazem bem.
                        A maneira de servir o jantar, a maneira de cortar a carne, a maneira de nos vestirmos. Tudo são rituais. Sem eles não ficamos. Temos orgulho dos nossos rituais, principalmente, aqueles herdados da família. Isto gera certa nobreza aos nossos modos. Até mesmo um quê de mistério.
                        O problema é quando estes rituais passam da conta, viram manias, superstições, transtornos obsessivos-compulsivos (TOC). Aí, o que era tão bom torna-se um pesadelo.
                        __ Natalino, por que está demorando tanto. Estamos no carro te esperando.
                        __ Calma, Rose! Calma! Estou me certificando se as janelas estão todas fechadas.
                        __ Mas, Natalino, já fizemos isso juntos...
                        __ Rose, eu não estava seguro. Estou só me certificando.
                        __ Natalino! Natalino! Pare com estas suas manias...
                        Para a própria pessoa, estes pequenos gestos não passam de rituais. Chegam a ser nobres. Para os demais, são loucuras que precisam de tratamento. Nada justifica haver uma regra para a posição da escova e da pasta de dentes na pia do banheiro. Nada justifica lavar as mãos de cinco em cinco minutos. Nada justifica que um pardal que entra pela janela de sua casa possa significar uma tragédia para toda a família.
                        __ Você pode me dar a capa falsa de sua revista?
                        __ Posso, claro! Mas pra quê você usa isso, Joaquim?
                        __ Uso como agenda, Fernando.
                        __ E por que não usa uma agenda de verdade, Joaquim? Afinal, você ganha tantas agendas bonitas todos os anos...
                        __ Não gosto de agendas...
                        __ Por quê?
                        __ Elas me dão azar...
                        __ Tudo bem! Tudo bem! Pode levar sua agenda de capa falsa...
                        Quem sofre de toque não acredita que está doente. Acha os outros uns chatos implicantes. Ele é nobre, pois tem seus próprios rituais. Os outros não têm graça nenhuma. Eles é que são doentes.
                        __ Neto, tem um cheiro ruim aqui na sala...
                        __ Não estou sentindo, Plínio. Estou concentrado vendo o jogo.
                        __ Mas tem sim! E tá cada vez pior...
                        __ Plínio, cê tá chato que nem minha esposa! Ah, isso deve ser só a minha cueca.
                        __ Como assim, Neto?
                        __ Estou usando a mesma cueca para ver os jogos do Flamengo.
                        __ A mesma?
                        __ Sim...
                        __ Desde o início do campeonato?
                        __ Sim...
                        __ E não lava?
                        __ Claro que não, cara! Pra não perder a sorte! Por que você acha que meu time está tão bem?
                        __ Estamos na 34ª rodada, Neto! Você é doido, cara?
                        __ Ah, para! Que doido nada, Plínio! Isto é o meu ritual. Entende, cara? Meu ritual! E dá sorte, tá!
 
 

domingo, 4 de novembro de 2012

sábado, 13 de outubro de 2012

Psicologia Gratuita

                        À meia luz da janela de um avião, ouvindo um sotaque gostoso e falando de assuntos diversos, dos reais aos imaginários, uma viagem que se prometia longa e cansativa, fica curta e interessante.
                        Às vezes, nas idas e vindas de nossa vida corrida, encontramos por acaso pessoas interessantes que trocam algumas palavras conosco. Pessoas que nunca vimos. Pessoas tão distantes fisicamente. Mas, ao mesmo tempo, pessoas tão próximas em estilo que comungam de uma visão de mundo irmã da nossa.
                        Isto acontece muito comigo. Nos lugares mais diversos, sempre aparece alguém vindo do nada para conversar, seja no metrô, no ônibus, no avião, no elevador ou numa fila qualquer. Talvez, porque eu goste de conversar. Talvez, porque eu tenho curiosidade sobre as pessoas. Não sei. Mas isso sempre acontece comigo. A pessoa chega meio tímida, troca um oi e começa a falar. Em questão de minutos, conta toda sua vida. Às vezes, em questão de minutos, fica sabendo de toda a minha vida também.
                        Não tenho problemas com isso. Minha vida não tem segredos. Acho até bom dividir minhas angústias e alegrias. Às vezes, a opinião de alguém de fora que nunca me viu me faz muito melhor do que a opinião viciada de alguém que convive comigo todos os dias. Estes breves encontros são como consultas gratuitas num psicólogo. Fazem-nos bem. Saímos deles muito melhor do que entramos.
                        Pena que, às vezes, ficamos com vontade de encontrar a pessoa novamente. Sentimos saudades daquela conversa tão agradável, dos sorrisos e da troca rápida e inesperada de vidas. Ficamos com falta daquela visão de mundo tão parecida com a nossa. E até pensamos: não estou sozinho neste mundo de malucos! Mas aí, nos vem a dura realidade: provavelmente, nunca mais veremos tal pessoa.
                        Mesmo assim, um pouco de seu sotaque gostoso ficou para sempre em nossa memória...

terça-feira, 11 de setembro de 2012

sábado, 8 de setembro de 2012

Humanos demais


                        Não se case com um escritor. É difícil para mim ter que dizer isso com esta sinceridade toda. Mas vou logo avisando: escritores são seres comuns no seu cotidiano, com todas as suas qualidades e defeitos. Não crie tantas expectativas, pois eles são humanos demais, como o seu primo deitado no sofá com a boca aberta ou como o seu pai que não para de reclamar da vida, do governo, do time e das músicas atuais.
                        Escritores são desorganizados demais. Espalham coisas pela casa inteira, principalmente, livros e papéis. Muitos e por todos os lados. E não deixam que você, zelosa esposa, tente organizá-los. O escritor tem o seu próprio método de organizar, que parece não ter a mínima lógica para os outros. E odeiam que os outros mexam em seus papéis. A aparente desorganização tem um sentido de organização, entendida apenas pelo próprio escritor.
                        Escritores são intensos demais. Vivem sempre na frente do gol, naquele momento último entre a glória e o fracasso. Suas variações de humor vão da euforia a tristeza total em questão de minutos, sem escalas nem avisos. O escritor é uma montanha russa de sentimentos. Não existe calmaria no convívio com ele, mas picos de sentimentos. Viver com um deles, é viver em fortes emoções, para o bem e para o mal.
                        Os escritores, principalmente os poetas, não são poetas o tempo inteiro. Sinto frustrá-la, querida leitora, na sua bela e inocente admiração por nós poetas. Mas os poetas têm suas angústias, suas frustações e suas inseguranças. Eles também precisam pagar suas contas. E por isso, têm momentos de stress e de mau humor. Ás vezes, ainda, têm chulé e caspas. Sentem preguiça, falam português errado e gritam palavrões. Podem acreditar, de perto nem os poetas escapam.
                        Mesmo assim, os escritores têm lá as suas vantagens. Principalmente para aquelas que apreciam a sensibilidade masculina. São capazes de desvendar seus mistérios e de entender seus sonhos mais secretos. Mas não são perfeitos. Apesar de alguns mais vaidosos acharem que sim. Vaidade, tudo são vaidades. Os escritores são humanos demais. Se quiser se arriscar a se casar com um deles, a decisão é sua, querida leitora. E depois, não diga que não avisei.
 
 

terça-feira, 31 de julho de 2012

O sorriso dos homens felizes


                        Diz a sabedoria popular que as mulheres são o sexo frágil. Ledo engano! Nós sim, os poderosos homens, é que somos o sexo frágil. Pois temos de admitir, somos totalmente dominados por elas. Não concorda comigo, pobre machista, trate de evoluir! Veja, então, alguns poucos exemplos: quem nos carrega por nove meses? Quem nos dá a luz? Quem nos amamenta? Quem nos educa? Quem nos ensina a rezar? E, principalmente, quem depois vai mandar no nosso suado dinheirinho? E por aí vai...

                        Amigo, você pode ser o cara mais poderoso da face da terra: o Barack Obama do final de sua rua! Você pode andar de nariz empinado, ter o carrão da hora e voz de comando. Você pode fazer e acontecer. Você pode estar naqueles momentos de “estou me achando o máximo”. Não adianta nada. Tudo isso não passa de pose! Quando aquele sorriso dissimulado é direcionado pra você; quando aqueles olhos mais brilhantes do mundo flecham os seus; quando aquela voz doce diz o seu nome. Pronto! É na hora! Você fica sem voz, sua frio, treme as pernas e sua pressão arterial vai nas alturas. Sorria, pobre machista, você foi fisgado!

                        A partir daí, meu amigo, não adianta resistir. O melhor mesmo é se entregar sem medo! Acabou a nossa personalidade de machão e ela, o tal do sexo frágil, faz com a gente o que quiser! Estamos apaixonados! Ah! Um homem apaixonado não tem limites! Quando deste momento espetacular de nossas vidas, quando em êxtase, somos capazes de tudo. Alguns alcançam este momento uma vez na vida, outros (pobres coitados) nunca são tocados pela paixão. A maioria, contudo, passa por essa fase algumas vezes e uns poucos felizardos estão sempre apaixonados. Ah! Esses sim é que são felizes!

                        Um homem apaixonado é figura fácil! Facilmente encontrado nas floriculturas, atrás de rosas vermelhas. Facilmente encontrado nas livrarias, atrás de algum livro de Vinícius de Moraes. Facilmente encontrado nas bombonieres, atrás de uma cesta de café da manhã. Facilmente encontrado nas lojas de discos, atrás de uma coletânea do Fábio Júnior. Facilmente fácil! Um homem apaixonado não fala alto. Não discute futebol. Não vê futebol. Não joga futebol. Um homem apaixonado não toma cerveja com os amigos. Não fala de diversas mulheres com os amigos. Não manda email de mulher pelada para os amigos. Um homem apaixonado vive a vida plenamente. Mas vive somente pra ela. E sente-se completo e feliz!

                        Um homem verdadeiramente apaixonado sonha todas as noites com a amada. Ao acordar, sente o sorriso da amada. Passa o dia todo com o sorriso da amada. Não se aborrece. Não fala dos outros. Não reclama da vida. Fala menos. Come menos. Pensa mais. No sorriso dela, claro! Vive a vida na maior simplicidade. O dia passa rápido e sem maiores complicações. Quando chega a noite só pensa em vê-la. Todas as noites de um homem apaixonado são de lua cheia e céu estrelado! Diante daquele sorriso e do brilho intenso de seus olhos, fica desconcertado e acha-se no céu. Não precisa de mais nada. Seu mundo está ali: vivo, simples, belo e feliz! Antes de dormir, lembra-se de seu sorriso, de seu gosto, de seu cheiro e sorri também. Dorme sorrindo. O homem apaixonado tem o mais belo sorriso do mundo: o sorriso dos homens felizes!




domingo, 15 de julho de 2012

Quando a Copa chegar

                        Faltam ainda dois anos, mas já é Copa do Mundo. Não se fala de mais nada neste País do Carnaval! Estádios monumentais já enfeitam nossas cidades. Grandes obras de infraestrutura estão para todos os lados. Muitos correndo para aprender o inglês. Vamos comemorar! É tempo de Copa do Mundo no País do Futebol!
                        Como tudo na vida tem o lado bom e o lado ruim, tirando os discos do Milton Nascimento, já temos dois lados bem definidos no assunto: os otimistas e os pessimistas. E claro, eles estão em plena campanha com suas ideias panfletárias. Cada um com uma razão melhor do que a outra.
                        Vamos aos pessimistas primeiro, pois estes são os que gritam mais alto. Não vai dar certo! Os estádios não ficarão prontos. Os aeroportos vão travar. As estradas não funcionarão. A Copa não vai acontecer. Não dá mais tempo. Vão roubar o dinheiro todo. O Brasil vai quebrar. E ainda vamos sair na primeira fase da Copa perdendo para o Marrocos.
                        Do outro lado do disco, estão os otimistas. Brasil, país de primeiro mundo. Vamos construir os melhores aeroportos. Vamos construir os melhores estádios. Vamos melhorar as estradas. Vamos melhorar os metrôs. Vamos ganhar férias de um mês. O dinheiro vai dar e sobrar. Vamos ganhar da Argentina na final de goleada!
                        É difícil ficar em cima do muro, gente. De um jeito ou de outro, acabamos por tomar partido. E você, amigo, de que lado está? Acredita na melhor Copa de todos os tempos ou num fiasco? Apostem suas fichas, pois a Copa está batendo às portas.
                        Deixando esta dicotomia de lado, tem ainda a turma do meio formada por aquela gente chata que fica preocupada com política, com CPI’s e com mensalão numa hora dessas. Tem gente que, em pleno clima de Copa do Mundo, fica falando de violência, de educação de qualidade e de saúde boa para todos. Povo chato, né. Estes são piores do que os pessimistas de 2014, pois são os pessimistas de hoje. Vamos deixar tudo para 2014, gente, que todos os nossos problemas serão resolvidos, quando a Copa chegar.

sábado, 23 de junho de 2012

O gênio que o homem deixou sair da garrafa


                        O escritor inglês George Orwell, do alto de sua notável inteligência e senso de justiça, no conturbado início do século XX, disse: “a máquina, o gênio que o homem impensadamente deixou sair da garrafa e não consegue colocar de volta.” Eu, neste maluco início do século XXI, atualizo a sua frase e digo: a tecnologia, o gênio que o homem impensadamente deixou sair da garrafa e não consegue colocar de volta, quer nos dominar completamente.

                        Eu já disse aqui que a minha avó criou seus oito filhos na roça, sem energia elétrica, sem geladeira, sem televisão, sem telefone, sem computador e sem internet. Eu não estou falando do distante século XIX, mas da segunda metade do século XX! Hoje é praticamente impossível para nós, os modernos do século XXI, imaginarmos um mundo sem celular e internet.

                        Basta andarmos pelas ruas de nossas cidades. Basta entrarmos num transporte público. Basta observarmos o mundo a nossa volta. Não veremos uma pessoa sem um aparelhinho altamente tecnológico nas mãos. Morando na capital deste Brasil, um país ainda considerado selvagem por muitos, esquecido aqui neste quente e distante planalto central, circulando de metrô, vejo todos os dias, o grande fascínio por estas maquininhas. É um senhor que joga. É a mocinha que escuta música. É o executivo que checa seus emails. Tudo muito simples, ao toque dos dedos.

                        Meu celular não é sensível ao toque, não acessa a internet, não tem grandes recursos. Sou mesmo um atrasado. Minha televisão é em cores. Para mim, só isto basta. Mas ela não é tela plana, não é HD, não é 3D. Sou um completo atrasado no meu próprio tempo. Quando começo a me acostumar com as novidades, elas já estão defasadas. A todo instante, as novidades nos atropelam. E eu fico aqui num estado de completa perplexidade com o nosso tempo.

                        Veja, abaixo, a definição de um celular no século XXI:

O iPhone é um smartphone com funções de ipod, câmera digital, internet, mensagens de texto (SMS), visual voicemail, conexão wi-fi local e, atualmente, suporte a videochamadas (FaceTime). A interação com o usuário é feita através de uma tela sensível ao toque.

                        Mas eu só preciso de um aparelho que fale, tenha uma agenda e passe mensagens...

                        Veja, então, o que é uma TV hoje em dia:

TV 63" Plasma 3D Full HD - (1.920x1.080 pixels) Media 2.0 (Internet@TV, DLNA Wireless e USB 2.0) UltraSlim (3,6cm) c/ Decodificador p/ TV Digital Embutido (DTV), 600Hz, Conversor 2D p/ 3D, Função REC Extended PVR, 4 Entradas HDMI, 2 Entradas USB 2.0 e Entrada PC.

                        Sinceramente, não sei nem o que é a maioria destas definições. Eu só preciso de uma TV com boa imagem em cores, para eu assistir ao jogo do meu Cruzeiro. Só isto me basta.

                        Mas depois que a gente se acostuma com uma novidade tecnológica, pronto, não se consegue mais viver sem ela. É aí que mora o grande perigo: o risco da dependência tecnológica, tão comum em nossos dias. Não conseguimos nem sequer imaginar o que seria o nosso mundo sem estes maravilhosos aparelhos. Como minha avó conseguiu?

                        Quando fiz meu primeiro curso de computação, a menos de vinte anos, a frase inicial do professor foi:

                        __ Este aqui é um computador. Não precisamos ficar com medo, pois ele é apenas uma máquina burra. Os inteligentes aqui somos nós.

                        Saudosos e felizes tempos.

                        Outro dia li que o ser humano está em acelerado desenvolvimento de computadores mais inteligentes que nós. E não apenas isso, na mesma reportagem os cientistas disseram que os computadores serão tão sentimentais quanto os humanos.

                        Isto é assustador! Imaginar um computador mais inteligente que eu não é assim tão difícil. Mas imaginar uma máquina mais sentimental do que eu, com minhas crises de carência afetiva, é totalmente impensável para mim.

                        São os seres humanos querendo brincar de Deus, o que acontece desde os tempos da Torre de Babel, Gênesis 11, 1-9.

                        Prefiro ficar por aqui com o nosso poeta maior, Carlos Drummond de Andrade, que tão bem disse no seu poema “O sobrevivente”:



Um sábio declarou a O Jornal que ainda falta muito

Para atingirmos um nível razoável de cultura.

Mas até lá, felizmente, estarei morto.


sábado, 26 de maio de 2012

Música pra quê?


                        Esta é a frase da semana, dita pelo atacante Herrera, do Botafogo, após marcar três gols na vitória de seu time contra o São Paulo, por 4 x 2, na estreia do Campeonato Brasileiro de Futebol, no último domingo no Rio de Janeiro.
                        Já virou tradição: quando um jogador marca três gols numa partida de futebol dominical, na saída de campo, é cercado por um entusiasmado jornalista da Rede Globo de Televisão e tem o direito (ou seria dever?) de pedir uma música para o programa Fantástico, a ser tocada no fim da noite.
                        Mas, Herrera, contrariando a toda poderosa Rede Globo, lascou sem medo:
                        __ Música pra quê?
                        O repórter, assustado com tamanha ousadia, ainda insistiu:
                        __ Fez três gols, tem o direito de pedir uma música!
                        O inflexível Herrera manteve sua opinião:
                        __ Eu não quero pedir música não.
                        __ Nem em castelhano?
                        __ Não, nenhuma.
                        __ Portanto... o Herrera não quer pedir música.
                        Finalizou um frustrado repórter, como se estivesse diante de um bandido. Como se fosse proibido pensar diferente. Como se fosse proibido falar não à “toda poderosa”.
                        Trata-se, claro, de uma mera bobagem: uma entrevista de um jogador de futebol na saída do campo. Invariavelmente, todos dizem as mesmas coisas, com os mesmos erros de português e os mesmos cacoetes de coçar o nariz ou o cabelo. Todos, ao marcarem três gols num jogo, saem sorridentes de campo e vão logo de encontro ao jornalista global para pedirem suas músicas de gostos duvidosos: sertanejo, pagode ou evangélica.
                        Mas, neste fim de tarde de domingo, algo de diferente aconteceu: em primeiro lugar, Herrera fez três gols. Só isso já seria um motivo para surpresa. Herrera não chega a ser um goleador, mas apenas um atacante esforçado. Em segundo lugar, apesar dos três gols, saiu de campo de cara amarrada. Muito mais do que isso, Herrera deu-nos uma grande lição: é possível, meus amigos, ser diferente neste nosso mundo tão massificado e capitalista.
                        É possível não ser só mais um. Por mais que queiram ditar nosso comportamento, nossas palavras, nossas roupas e nossos gostos. Ainda é possível pensar, falar e agir diferente. É possível, por mais difícil que nos pareça, ser autêntico neste mundo dos iguais.
                        Parabéns, Herrera! Se não fosse argentino, pediria seu nome na Seleção.
                        Estamos precisando de jogadores autênticos na nossa Seleção. Mais do que isso: estamos precisando de gente autêntica nas nossas vidas.
                        Mas que pena, Herrera é argentino. Não podia mesmo ser perfeito, este garoto de personalidade!

sábado, 19 de maio de 2012

Do rio Amazonas ao sorriso de Angelina


                        Na correria do dia-a-dia, muitas vezes, saímos de casa com o dia amanhecendo e voltamos tarde da noite. Exaustos, não queremos saber de mais nada. Nossa cama é o refúgio tão merecido. Apesar das recomendações médicas, dormimos bem menos do que precisamos. Mesmo pouco, uma boa noite de sono é tudo de bom. No meu caso, contudo, nunca é o suficiente. Eu quero sempre dormir mais. Quando o infame despertador toca, é uma lástima! Desperto do maravilhoso mundo dos sonhos para a dureza da realidade sem fantasia.

                        Uma boa noite de sonhos pode superar uma vida inteira de realidade. O sonho é infinito. Nele, tudo é possível. Do nada, me encontro conversando com meu avô falecido, falando de futebol. Ele está sorridente, sua cor é boa e aparenta saúde. Conversamos alegremente. De repente, sou acordado por um pernilongo insistente. Cadê meu avô? Cadê meu avô? Procuro em vão. Ele faz parte do mundo de meus sonhos. Volto a dormir na firme esperança de retomar a conversa com meu avô. Nada. Sou transferido para outro mundo imaginário, na categoria dos horríveis pesadelos. Estou num pequeno barco, acompanhado de um antigo amigo da faculdade que não vejo há tempos. Estamos no meio do rio Amazonas, que eu não conheço pessoalmente, enfrentando uma grande turbulência. Peixes enormes pulam por cima de nosso modesto barco. O grande rio está muito agitado e vem vindo um temporal. Estamos sem controle e, logo à frente, aproxima-se uma gigantesca queda d’água. O desespero é total e vamos em grande velocidade ao encontro da morte.

                        Sou acordado por um barulho lá fora. Felizmente! Estou suado, cansado e com a camisa molhada. Saio da cama e vou tomar um copo d’água. Cadê meu amigo da faculdade? Sumiu nas águas imaginárias. Pelo menos, ainda são três horas. Vou dormir com a expectativa de que o pesadelo não volte. Voltou. Agora, o pequeno barco começa a vazar e somos atacados por jacarés famintos. Não sabemos o que fazer. No desespero, meu amigo cai na água e é atacado pelos jacarés. Eu continuo lutando contra o buraco que insiste em aumentar. A situação é desesperadora! Sou acordado novamente por um pernilongo. Bendito pernilongo! Nunca antes fiquei tão feliz em ver um pernilongo! Nada de jacarés, ainda bem!

                        Mudo de posição na cama, para tentar esquecer o pesadelo. Funciona. Em minutos, já estou noutra fantasia, visitando o Cristo Redentor, na cidade maravilhosa do Rio de Janeiro. O céu está azul e tudo é lindo demais! Estou só e tiro fotos distraidamente. De repente, sou abordado por ela. Não! Vocês não vão acreditar! Toca o meu ombro com dedos longos e delicados e me pede ajuda para tirar algumas fotos. Fico sem voz. Diante de mim: Angelina Jolie e aquela sua boca, digamos, assim, irrecusável... Ela está só. Começamos a conversar. Não me pergunte como, pois eu não sei falar inglês. Talvez, ela saiba falar português! Sua simpatia para com este pobre e medíocre sulamericano é impressionante. Ela gosta de fazer caridade, pensei! Ainda bem! Conversamos sobre tudo: literatura, cinema, política, futebol. Até mesmo futebol! E ela é torcedora do Flamengo! No meio da animada conversa, ela me convida para lhe fazer companhia pela cidade. Eu aceito, claro! Pouco depois, estamos num sofisticado restaurante de Copacabana. É difícil de acreditar, mas ninguém reconhece a Angel! Com o avançar da conversa, ganho intimidade. O clima é de romance e acho que vai rolar...

                        Toca o despertador...

                        Não vou dizer para vocês com que cara olhei para o despertador! Tem coisas que as palavras não conseguem expressar. Talvez, seja melhor assim. Normalmente, me levanto de mau humor. Eu sempre quero dormir um pouco mais. É bastante recomendável, inclusive, não conversar comigo na primeira hora do dia. Neste dia, porém, passado o susto inicial, achei melhor recordar meus belos sonhos. Tive até sorte, pois tem dia que a gente acorda de uma noite de sonhos e só se lembra dos pesadelos. Hoje, felizmente, não. Estou me lembrando perfeitamente dos meus sonhos! É tão bom rever o meu avô, com um sorriso no rosto. Os olhos e a boca de Angelina, então, são inesquecíveis! Ah, não vou nem contar os detalhes! Passarei o dia com um sorriso maroto nos lábios. Se alguém me perguntar pelo sorriso, mudo de assunto e vou falar de futebol.

                        Ninguém vai acreditar mesmo.


sábado, 21 de abril de 2012

O grande irmão zela por ti

            O facebook é um filho do mundo moderno: conectado-veloz-virtual.
            Para seus muitos defensores, veio para aproximar as pessoas. Para seus desafetos, muito pelo contrário, veio justamente para afastar ou vigiar as pessoas.
            Apesar da polêmica, hoje é muito difícil ficar alheio aos seus encantos.
            Quem entrou na aldeia facebook, sabe muito bem o que estou dizendo. Se a pessoa não se controlar, torna-se, rapidamente, dominada por ele. O brinquedinho é altamente viciante, como os jogos eletrônicos, a cachaça e outras drogas. Como tudo que é viciante, há sempre os dois lados: é gostoso, mas pode ser prejudicial.
            Portanto, tomem muito cuidado para não se viciarem e saírem cutucando quem não devem. Estou falando sério. Veja como estão as coisas por aí.
            O sujeito chega a sua casa, liga seu computador, conecta o facebook, vê as novidades dos outros e posta algumas mensagens. Passados uns dez minutos, percebe seu descuido e levanta-se da cadeira:
            __ Oi, meu bem, como você está? Como foi seu dia? Fiquei distraído no computador e nem vi que você já estava aí...
            Cinco minutos depois, não mais que isso, para não perder seu tempo precioso, o sujeito está de volta ao mundo facebook.
            Neste universo, de uma maneira muito mais fácil e rápida, você fica sabendo da vida de todos e comenta todas as postagens, pois quase todos seus amigos estão ali. Só mesmo uns poucos reacionários ainda não estão conectados.
            Claro, saber da vida alheia, desde os tempos primórdios é um de nossos maiores defeitos e, também, uma de nossas maiores delícias.
            Mais viciado que o tal esposo, está aquele que tem seu celular conectado à essa rede social. Este é um doente sem volta. Seu caso é grave.
            Quando o sujeito ainda consegue sair com os amigos, não consegue se desconectar. Na primeira oportunidade de se livrar das conversas chatas no bar, entra no facebook, pois ali sim, no mundo virtual, estão as pessoas mais interessantes. Lá estão seus verdadeiros amigos!
            Na mesa de bar, com seus amigos de carne e osso, tem sempre um chato que faz uma piadinha:
            __ Ei, largue este mundo virtual e venha conversar com a gente!
            O sujeito fica vermelho, sem graça, com aquela vontade de dar um murro no engraçadinho, mas deixa o celular na mesa, contrariado. Mas, quando os outros mudam de assunto, dá uma escapulida e vai ao banheiro para conectar-se escondido.
            Temos outro nível de viciado em facebook que é aquele que faz de seu perfil um verdadeiro Big Brother. É o facebook vigiando as pessoas ou são as pessoas gostando de serem vigiadas? Neste sentido, é uma faceta curiosa do livro “1984”, de George Orwell, quando o lendário personagem “Big Brother” dizia: “o Grande Irmão zela por ti".
            Não sei, não sei. Para mim, pior do que ser vigiado, é gostar de ser vigiado.
            É o caso do sujeito que faz um prato diferente no seu apartamento e logo posta a foto no facebook: “Olha, gente, o que estou comendo!” Ou, então, aquele que fica dizendo a todo instante sua localização: “Fulano fez check-in no restaurante tal”. Tem, também, aquela que publica desesperada: “Gente, quebrei minha unha!”.
            Meus quatro leitores, é impressão minha ou nosso mundo atual é um tanto esquisito? O facebook ao mesmo tempo que facilita a comunicação deixa as pessoas tão distantes. Eu, hein!
            Bom, está muito boa a conversa, mas vou ali me conectar. Afinal, eu também sou filho de Deus, né!
            Quem gostou, curte aí e compartilhe!
 

sábado, 31 de março de 2012

Sou! Mas... quem não é!

Enquanto isso em Chico City:
 
JOVEM: Pô, Haroldo, Pô! Já viu o cara novo que chegou na cidade? Pô!
HAROLDO: Eu não reparo em homem. Isso faz parte do meu passado. Agora, sou hetero. Sou machão!
JOVEM: É um tal de Chico, Haroldo. Você viu?
HAROLDO: E ele é bonito?
JOVEM: Pô, Haroldo! Tô falando sério, pô!
 
GASTÃO: Alberto Roberto, meu amigo, tá sabendo da novidade?
ALBERTO ROBERTO: Não.
GASTÃO: Do seu novo vizinho?
ALBERTO ROBERTO: Não.
GASTÃO: É um tal de Chico.
ALBERTO ROBERTO: E o que Alberto Roberto, o galã, tem com isso?
GASTÃO: Dizem que o Chico é ator. E dos bons!
ALBERTO ROBERTO: Ator bom aqui em Chico City, meu caro Gastão, é só Alberto Roberto.
GASTÃO: Dizem até que veio da Globo, Alberto. Acho que você vai perder seu posto.
ALBERTO ROBERTO: Eu não perco meu posto, jamais. Eu sou um símbalo sescual. Quer pagar pra ver?
GASTÃO: Eu não pago nada!
ALBERTO ROBERTO: Tá vendo, Gastão! Você não passa de um velho pão-duro!
GASTÃO: Pão duro, não! Eu sou controlado.
 
TAVARES: Deputado Juuusto Veríiiiissimo, tenho uma pra contar...
JUSTO VERÍSSIMO: Conte rápido, porque não tenho tempo a perder com pobre.
TAVARES: Chegou um políiiiitico novo na cidade...
JUSTO VERÍSSIMO: Você está bêbado, Tavares! Bêbado!
TAVARES: Deputado, eu bebi uma só... e sem exeeeemplo. É verdade o que digo.
JUSTO VERÍSSIMO: E quem é o infeliz?
TAVARES: É um tal de Chico... Chico Anysio!
JUSTO VERÍSSIMO: Chico? Quem é Chico? Com um nome desse só pode ser pobre. E eu tenho horror a pobre!
TAVARES: Deputado, dizem que... que ele é muito popular...
JUSTO VERÍSSIMO: Popular rima com pobre. Eu quero é que pobre se exploda!
TAVARES: Mas, deputado...
JUSTO VERÍSSIMO: Vou indo, Tavares. Vou indo. Não tenho mais tempo para pobres. Tavares, você e esse Chico não passam de uns pobres! E eu tenho horror a pobre!
TAVARES: Deputado! Depuuuutado! Eu sou! Mas... quem não é?

SALOMÉ: Delegado Matoso? Alô! Delegado?
DELEGADO MATOSO: Diga! EhEhEhhhh...
SALOMÉ: Aqui é Salomé! Salomé de Passo Fundo! Amiga da Dilma!
DELEGADO MATOSO: Eu sei, Salomé! O Delegado Matoso sabe tudo, Salomé! EhEhEhhhh...
SALOMÉ: Delegado, tem um homem novo na cidade. Delegado! Guri! Estou preocupada, entende? Ninguém sabe de onde veio e daí?
DELEGADO MATOSO: Fique tranquila, Salomé. Já levantei a ficha do cara.
SALOMÉ: E daí, guri?
DELEGADO MATOSO: É perigoso. EhEhEhhh... Tem mais utilidade que marido de aluguel! Muito perigoso!
SALOMÉ: Barbaridade, tchê!
DELEGADO MATOSO: Ele é ator, dublador, diretor, dramaturgo, compositor, escritor, pintor, comentarista esportivo e humorista. Muita serventia num homem só. Isso é perigoso! EhEhEhhh...
SALOMÉ: Minha Nossa Senhora Mãe de Deus, tchê!
DELEGADO MATOSO: Fique tranquila, Salomé. Estou de olho nele!
SALOMÉ: Vou rezar pra ti, Guri. Vou rezar. Tchau, Guri.
DELEGADO MATOSO: EhEhEhhh... Eu ainda acabo na Federal! EhEhEhhh...
 
PANTALEÃO: Meu amigo professor Raimundo, sente aí. Qual o motivo da honra de sua visita?
PROFESSOR RAIMUNDO: Estou preocupado, Pantaleão. Chegou um tal de Chico na cidade.
PANTALEÃO: Tô sabendo, Raimundo. Tô sabendo. Pedro Bó, busque uma água de coco pro professor.
PROFESSOR RAIMUNDO: Ele é professor, Pantaleão. Estou preocupado...
PANTALEÃO: Pois não fique. A última vez que chegou um professor de fora aqui em Chico City foi numa ocasião, em 1927...
PROFESSOR RAIMUNDO: E ficou muito tempo por aqui?
PANTALEÃO: Ficou não...
PROFESSOR RAIMUNDO: Mas por qual motivo, Pantaleão?
PANTALEÃO: Era muito inteligente...
PROFESSOR RAIMUNDO: Não entendi...
PANTALEÃO: Professor muito inteligente não fica em Chico City, Raimundo. O povo daqui é muito burro, sabe. Ele foi embora rapidinho daqui. É mentira, Terta?
TERTA: Verdade...
PROFESSOR RAIMUNDO: Vai comendo, Raimundo...
 
PEDRO FORTES: Para encerrar nosso programa, faço uma última pergunta para o novo morador de nossa cidade, Chico Anysio – o que você acha do casamento?
CHICO ANYSIO: Quem é casado com Maria há quarenta anos, não entende de casamento. Entende de Maria. Quem entende de casamento sou eu, que fui casamento seis vezes!
PEDRO FORTES: Nosso obrigado ao Chico Anysio. Com essa, encerramos nosso programa. Alegria, alegria, faça como eu: sorrrrria! Techau...