domingo, 19 de junho de 2011

O que é demais nunca é o bastante

Em 11 de outubro de 1996, morria de AIDS um dos mais importantes poetas de nossa música, Renato Russo, o líder da Legião Urbana. Infelizmente, para tristeza de todos nós, morreu cedo demais, aos 36 anos. Sua despedida precoce deixou uma lacuna irreparável na música brasileira, que talvez, nunca mais será preenchida. Suas letras intrigantes e diretas continuam atuais, surpreendentes e revolucionárias.

Hoje, depois de um bom tempo, peguei um CD da Legião Urbana para ouvir. Apesar de tantas vezes ouvidas, lidas e cantadas, suas letras ainda trazem algo de novo e nos fazem pensar. Ouvi, ouvi de novo e continuo ainda com a belíssima “O Teatro dos Vampiros” na cabeça. Ah, quantas saudades do talento de Renato Russo! Hoje, que tristeza, o pobre repertório da música brasileira baseia-se no apelo sexual do funk, na choradeira do sertanejo, na irritante banda calypso e em outras expressões musicais de péssima qualidade.

Somente a letra de “O Teatro dos Vampiros” vale uma tese de Doutorado. Nela, o poeta Renato Russo nos revela com tremenda sensibilidade: “o que é demais nunca é o bastante”. Nada mais verdadeiro! Nada mais atual! Vivemos na sociedade da ostentação, do hedonismo e do consumismo exacerbados. É preciso ter, parecer e exibir cada vez mais. Somos insaciáveis. Somos indesejáveis. Somos inconsequentes. O nosso olho grande é maior do que o mundo! Queremos tudo e queremos agora! Como o poeta mesmo disse: “a primeira vez é sempre a última chance”. Um sentimento maluco de urgência domina tudo. O consumismo nos deixa alucinado e fora da realidade. O modelo do ano passado já não serve mais, está obsoleto. Só o novo, o moderno e o original satisfazem a nossa loucura. O que também foi captado pelo olhar crítico do poeta através do verso: “a cada hora que passa envelhecemos dez semanas”.

Mas nada dura para sempre. Nem mesmo a exuberância. Nem mesmo a ilusão. Vivemos há pouco uma grave crise financeira, que levou o mundo todo ao desespero. Crise esta causada pelo consumismo monstruoso da maior potência capitalista mundial, os Estados Unidos da América. Por causa da loucura dos americanos alastrada para todo o mundo, a economia capitalista está saturada, a natureza está saturada, a dignidade humana está saturada. Estamos perdidos no mundo das incertezas.

As perguntas que mais se fizeram neste momento de angústia foram as seguintes: onde vamos parar? Até quando vai esta crise? Mas estes não são os melhores questionamentos. As perguntas mais inteligentes seriam as seguintes: o que será de nós depois da crise? E o que será do planeta? Ou seja, este terremoto veio para que possamos parar um pouco com a nossa loucura e pensar no que estamos fazendo de nossas vidas e do futuro do planeta. É o momento do basta. É o momento da mudança. Não podemos mais basear a nossa vida no consumismo desnecessário, enquanto boa parte da população mundial passa fome. Precisamos rever nossos conceitos, antes que o planeta se esgote por completo e todos nós sejamos exterminados por causa de nosso egoísmo. Para encerrar, um pouco mais da beleza de “O Teatro dos Vampiros” de Renato Russo: “e de pensar nisso tudo, eu, homem feito, tive medo e não consegui dormir.”