sábado, 16 de abril de 2011

Geração Urbana

Somos de uma geração urbana. Nascemos em cidades. Vivemos em cidades. Morremos em cidades. Os valores culturais urbanos e a força inexorável da tecnologia tomam conta de nossas vidas. Não conseguimos mais imaginar o nosso cotidiano sem o conforto da eletricidade, do telefone, do computador e da internet. Pobres de nós.

Nossos jovens são ainda muito mais tomados pelos valores urbanos. Aqueles que têm menos de vinte anos são completamente viciados em artefatos tecnológicos. O computador e a internet são mais importantes para eles do que a luz do sol e o frescor da água. Coitados! Como dizia o filósofo francês Jean-Paul Sartre em seu belo e forte livro “A Náusea”: “Nunca viram senão a água domada que corre das torneiras, a luz que jorra das lâmpadas quando se aperta o interruptor.”

Nossa dependência do mundo urbano me preocupa bastante. Imaginemos o seguinte: se acontecesse uma pane mundial e todos nós ficássemos sem energia elétrica, telefone, computador e internet, o que seria de nós? Muitas vezes, pensamos que nossos conhecimentos modernos são muito mais importantes que os simples trabalhos braçais. Será mesmo? Numa situação como esta, pessoas como nós, totalmente dependentes da tecnologia, sobreviveríamos?

A minha mãe sabe matar, depenar, abrir, cortar e cozinhar um frango, que ela mesma criou. E eu? A minha mãe sabe cuidar da terra, plantar uma hortaliça, colher e fazer um gostoso refogado de couve. E eu? Seria possível, hoje, viver sem os confortos de nossa vida urbana?

Tenho certeza que a evolução tecnológica é necessária. Um caminho sem volta. O progresso faz parte de nossa natureza. Mas, às vezes, acho a nossa vida urbana meio vazia e superficial. Sinto falta de fazer algo mais prático, como lavrar a terra, ordenhar uma vaca, cortar uma lenha. Algo que pudesse me fazer mais útil, mais próximo da natureza, que me fizesse suar o corpo e descansar a cabeça. Sinto falta de ouvir o primeiro canto do galo, de tomar água de mina, de andar descalço na terra, de montar um cavalo, de ouvir os sapos na lagoa, de contar as estrelas no céu e de passar um dia inteiro sem televisão e computador. Às vezes, penso em largar tudo, sair do piloto automático que nos sufoca, fugir do ar-condicionado, tomar luz de sol, respirar ar puro da manhã e viver com mais vida.

domingo, 10 de abril de 2011

O que busca o poeta?

O que busca o poeta? O que lhe traz a tão desejada e necessária inspiração? Leituras, estudos, vaidades? Não, absolutamente. Neste mundo dos vencedores, do ter, do poder e do parecer, o poeta, na sua pureza, busca o amor. Por ele, o poeta lê, o poeta estuda, o poeta escreve, o poeta enche o peito e declama com orgulho, paixão e desenvoltura.
O amor é o alimento da alma carente do poeta. Principalmente, quando este amor lhe aparece do nada. Quando a experiência do poeta de tantos outros amores é desafiada pela beleza de um sorriso, pelo charme de mãos finas em cabelos longos, pela doçura das palavras, pela luz de grandes olhos negros, por todo o encantamento de um novo amor.
Uma bela surpresa desarma o coração do poeta e o faz virar uma criança, indefesa, pura e entusiasmada diante do primeiro amor. Quando o poeta está amando, um novo mundo de possibilidades se abre, como um botão de rosa, timidamente, cheio de vida, numa manhã iluminada de abril. O poeta, quando ama, vive em êxtase, na plenitude de seu ser. As palavras, antes tão procuradas e ariscas, agora, se oferecem como singelas pombinhas numa praça de interior. E o poeta que ama, pode brincar com elas, sem medo, sem reverência, pois as palavras lhe estão dóceis, obedientes e amáveis.
Amando, o poeta vive plenamente. O poeta escreve e declama. Canta e dança. Oferece flores e chora. Treme de emoção e sonha. O poeta ouve os passarinhos e passeia pelos jardins. Vê um mundo maravilhoso e colorido, com os olhos encantados da poesia. O poeta ama a novidade, é perfeitamente livre e criativo. O poeta se arrisca com o novo porque sabe que a mudança é o oxigênio da vida. No amor, ele leva a vida do seu jeito, sem se preocupar com os outros, longe da correria maluca do dia-a-dia e perto dos desejos de seu coração sonhador, vibrante e apaixonado. O poeta quando nos braços encantados do amor transforma o mundo a sua volta. Amando, o poeta se completa.
O amor é a única e verdadeira inspiração da poesia.