sábado, 24 de dezembro de 2011

Um Feliz e Santo Natal para todos! Abraços,

Natal é a festa da vida!

Da vida que nasce todos os dias,

Aqui, ali, na esquina, no mundo.

É a festa da esperança que ilumina

O alegre sorriso de uma criança.

Natal não é presente,

Nem doce, nem brinquedo, nem roupa,

Natal não se acha no comércio,

Não se vende e nem se compra.

O Natal se dá:

No aperto de mão amigo,

No sorriso espontâneo,

No abraço de carinho,

No perdão sincero.

O Natal de verdade é simples,

E a simplicidade da vida é a gente que faz.

Deus não nasce num trenó, no meio dos presentes.

Ele quer nascer é dentro da gente.

Pra isso, precisamos limpar o coração,

Pra Deus cair brilhando dentro da gente,

Num verdadeiro Natal de amor.

sábado, 10 de dezembro de 2011

Faça de conta

Seu mundo está tão mesquinho

Faça de conta que as pessoas são mais humanas



Seu trabalho não tem mais sentido

Faça de conta que você é imprescindível



Sua esposa está tão sem graça

Faça de conta que está apaixonado



Seus amigos estão muito chatos

Faça de conta que eles são as melhores pessoas do mundo



Seu dia não começou bem

Faça de conta que hoje é o grande dia de sua vida



Você está se sentindo uma pessoa ruim

Faça de conta que pode mudar o mundo



Você está se sentindo feio

Faça de conta que é o Brad Pitt



Seu time está tão ruim

Faça de conta que ele é o Barcelona



Na TV, só tem notícias ruins

Pegue um livro, faça de conta e mergulhe no mundo de suas fantasias.

  

sábado, 26 de novembro de 2011

Lançamento do livro 'O dono do rádio'

Amigos,

Conto com a presença de todos.
Divulguem e compartilhem.
Abraços,


terça-feira, 15 de novembro de 2011

domingo, 13 de novembro de 2011

Cliente mimado

            Filho mimado é um ser bastante comum no mundo. Podemos dizer que existe em todas as famílias, como aquela tia velha rabugenta, como o primo que bebe um pouco mais e dá seus vexames ou como o tio contador de casos, que não deixa ninguém mais falar. Cônjuge mimado, como variação do primeiro, também é comum. Existe em todas as casas, como as formiguinhas no açúcar e as lagartixas atrás das cortinas. Porém, nos tempos atuais, vem surgindo uma nova variante deles, que é o cliente mimado. Fruto, com certeza, daquela frase: “o cliente tem sempre razão”. Na condição de funcionário de uma empresa de serviços, muitas vezes, tenho vontade de matar o autor da frase infeliz. Mas na condição de cliente, pago uma caixa de cerveja para o gênio que a criou. A vida é sempre assim: dois lados da mesma moeda. Um dia, somos a pedra. No outro, somos o telhado.
            Vejam bem a que ponto chegamos:
            __ Minha senhora, o que estou dizendo está no item 5.2 do contrato.
            __ Mas eu não li o contrato.
            __ Bemmm... ééé... masss... deveria ter lido...
            __ Não! Não! E não! O senhor é que deveria ler!
            __ Mas eu li! Pra mim...
            __ Tá vendo, como o senhor me trata, seu egoísta? Deveria ter lido pra mim, ora!
            __ Mas...
            __ O senhor é mesmo um insensível!
            __ Eu?
            __ Sim, o senhor! Um monstro das cavernas!
            __ Como assim, um monstro?
            __ Eu tive um neném e o senhor nem ligou pra mim... Como pôde ser tão insensível?
            __ Mas eu não sabia...
            __ Como não sabia? O senhor é meu gerente e tinha obrigação de saber!
            E desligou o telefone na cara de seu gerente insensível, que com o aparelho já no gancho, só teve tempo para desabafar, com os punhos cerrados:
            __ Pôneis malditos!
            Outro dia, vi uma situação parecida:
            __ Senhor Alberto, bom dia! Como vai? Estou ligando porque tenho um negócio bom para o senhor!
            __ Sei... O senhor ligou para me dar os parabéns pelo meu aniversário...
            __ Sim, claro, senhor Alberto... Parabéns, felicidades e saúde para o senhor!
            __ O senhor não ligou para me dar os parabéns, seu mentiroso.
            __ Liguei sim, senhor Alberto. Só não quis ir direto ao assunto.
            __ Mas foi...
            __ Como assim?
            __ Foi direto me oferecendo seus produtos. O senhor é um insensível, gerente Luís Anselmo! Só quer saber de meu dinheiro e mais nada!
            __ Mas...
            __ Pensei que fôssemos grandes amigos, mas o senhor só quer cumprir suas metas comigo. Sou apenas um número para o senhor. Um número e mais nada!
            E começou a chorar compulsivamente ao telefone.
            __ Senhor Alberto, me desculpe...
            __ Nem do meu aniversário o senhor se lembra mais, Luís Anselmo. Nem isso. Sem consideração. Gerente insensível! Insensível! Insensível!
            E bateu o telefone na cara do estupefato gerente, que ao desligar, ainda teve o bom humor para dizer:
            __ Mais assustador que homem feio contando piadas e fazendo caretas!
            Um amigo, dono de uma oficina mecânica, me contou outro caso, de uma conversa com um cliente. É uma situação tão complicada para um gerente, que chega a dar dó:
            __ O senhor vai trocar de oficina? Mas por quê? Fizemos algo de errado no seu carro?
            __ Não, senhor Marcelo, os serviços de sua oficina são sempre muito bons.  Não tenho nada a reclamar de seu serviço.
            __ Obrigado! Então, meu caro Ed, por que vai trocar?
            __ Não me chame mais de Ed. Agora, pra você, sou apenas senhor Edbert.
            __ Sim, senhor Ed...Edbert, mas o que aconteceu? Foi nosso preço?
            __ Não, senhor Marcelo, seu preço foi sempre muito bom. Eu também não ligo muito pra preço.
            __ Então, senhor Edbert, o que fizemos de errado? Diga, para podermos melhorar.
            __ Você não liga pra mim, senhor Marcelo.
            __ Uai?
            __ Não ligou no meu aniversário. Não ligou quando me aposentei. Não ligou quando fui avô. Não ligou nunca!
            __ Mas, senhor Edbert, aqui é uma oficina mecânica. Eu preciso fazer um serviço de qualidade com um bom preço...
            __ O senhor está muito enganado, senhor Marcelo. Muito enganado. Enquanto o senhor só pensa em dinheiro, o mecânico do meu amigo, liga pra ele. Liga no aniversário. Liga no Natal. Liga quando o time dele ganha. Liga até quando perde... pra dar uma força.
            __ Mas...
            __ Outro dia mesmo, ele me matou de inveja, pois me mostrou uma garrafa de cachaça que ganhou do gerente da oficina. Cachaça de Minas, senhor Marcelo! De Minas! E eu? O que ganho aqui? Nem uma dose pra molhar a garganta. Só ganho contas pra pagar! Vou embora pra concorrência!
            São os novos tempos para o atendimento. Adapte-se rápido ou morra! Antigamente, o balconista de uma loja nem olhava para o cliente. No máximo, respondia as perguntas com monossílabos e aquela cara de apressado. Hoje, tudo o que se fizer para o cliente ainda é pouco. O cliente mimado é um insaciável. Ele não tem limites.
            Se você está querendo abrir um negócio, principalmente, de serviços, pense muito bem. O cliente mimado não é fácil, além de muito perigoso. Sua rede de relacionamentos é grande e sua língua não tem tamanho. Preste atenção no atendimento e na equipe que vai montar. Não podem faltar bons psicólogos, babás, avós e mães de filhos únicos. Estas, então, são as melhores para o atendimento dos desejos malucos desses clientes mimados.
            Ah, claro, não se esqueça dos padres! Bons padres exorcistas! Você vai precisar deles.
            Quem avisa: amigo é!




domingo, 6 de novembro de 2011

Futebol: paixão nacional

       
O futebol é assunto para tudo. O sujeito que conhece e gosta de futebol não fica calado numa roda de amigos. Tem sempre uma opinião formada, mesmo que os demais discordem:

            __ Na minha opinião, o Zico jogou muito mais bola do que o Maradona.

            __ Flamenguista é doente. Não tem jeito. O Zico só jogou no Maracanã.

            __ Cara, acho que você não viu o Zico jogar, como eu vi.

            Assim, temos uma discussão instalada para um domingo inteiro, sem nunca se chegar a um acordo.

            O futebol é um terreno de grandes paixões. E grandes paixões não têm nenhum juízo.

            __ O Reinaldo foi o melhor atacante de todos os tempos!

            __ Plínio, cê tá doido? E o Romário? E o Ronaldo? E o Careca?

            __ Rei! Rei! Rei! Reinaldo é nosso rei!

            Não adianta discutir. Nada vai fazer um “doente” mudar de opinião. Por mais que o mundo a sua volta diga que não, para ele, foi o Reinaldo que jogou mais. E pronto.

            Mesmo que suas opiniões sejam diferentes da maioria. Ainda que sua fala cause grande discussão.    O mais importante quando o assunto é futebol, é deixar muito claro que você entende do assunto, mesmo que nunca tenha calçado um par de chuteiras na vida.

            __ Time grande jamais pode usar três volantes. Time grande tem de jogar com um volante só. Ainda assim, um que saiba sair jogando. Dois meias armando e três atacantes. Dois abertos na ponta e um centroavante enfiado.

            Seus interlocutores vão lhe admirar. Vão pensar longos dois minutos para contestá-lo. Mesmo que discordem, você mostrou que sabe o que está falando.

            __ Você não acha que o time fica muito vulnerável jogando assim?

            __ De maneira alguma, vulnerável fica o adversário. Time grande tem de se impor, jogando sempre no ataque.

            Falando com esta firmeza, você conquista a plateia. Se tiver alguém na roda que não lhe conhece, vai até lhe chamar para uma pelada na terça-feira. E você vai recusar, é claro!

            __ Não posso. Estou disputando um campeonato. Na terça, é o dia que a gente treina.

            __ Nossa! É mesmo? E você joga de quê?

            __ Meia-esquerda. Sou um meia que arma, mas também chego no ataque. E gosto de bater em gol.

            __ Meia-esquerda? Achei que você fosse destro.

            __ Só da cintura pra cima...

            Agora, se você quer mesmo conquistar admiradores na roda de amigos, conteste a opinião dominante. E conteste com a firmeza soberana de quem conhece muito do assunto.

            __ Eu discordo de vocês. Muricy Ramalho não é melhor treinador do Brasil.

            Todos vão olhar para você com cara de reprovação.

            __ Time que o Muricy treina joga fechado na defesa, buscando os contra-ataques. Isso não é o verdadeiro futebol brasileiro. Time grande tem de jogar pra cima.

            No princípio, você será invejado, contestado e ridicularizado. Contudo, depois de algumas falas firmes, ganhará respeito dos amigos. Aposto que vai ser, inclusive, convidado para dar a sua opinião numa roda de futebol, quando o assunto estiver muito complicado, com opiniões contraditórias. Com o tempo, você terá direito a última palavra.

            Futebol é assunto para tudo. É ótimo assunto numa roda de amigos. E é assunto importante no trabalho também. Serve muito bem para motivar a equipe.

            __ Meus amigos, no nosso dia-a-dia, precisamos trabalhar como um time pequeno: todo mundo fechadinho na defesa, um ajudando o outro, na maior determinação. Mas quando vamos para o ataque, com a bola dominada, temos que ser como time grande, agir com confiança, ter criatividade e aproveitar as oportunidades.

            O futebol serve, ainda, para descontrair numa visita de negócios, quando você está diante daquele cliente que nunca viu pessoalmente e não sabe nem como começar a conversa. Aí, de repente, para sua salvação, toca o celular dele: “Botafogo, Botafogo, campeão, desde 1910”. Pronto, seus problemas acabaram!

            __ Botafoguense está feliz, né! Time jogando bem, jogadores na seleção! Acho até que vai ganhar o Brasileiro!

            Com esta frase simples, você quebra o gelo e tem assunto com o cliente para um bom tempo. O tal cliente desconhecido está conquistado e os negócios prometem!

            Porém, como se diz no futebol, cada jogo é um jogo. Não dá para repetir o mesmo esquema contra todos os adversários. Cada adversário precisa ser bem estudado e a estratégia adaptada para cada caso. Não é porque o assunto futebol tem funcionado muito bem, que você vai chegar numa garota logo dizendo:

            __ E aí, boneca, qual o seu time?

            Desse jeito, você levanta a bola para ela chutar:

            __ Não gosto de futebol.

            E aí, campeão, o que fazer agora?

            Neste caso, não tem jeito. É como entrar de primeira e levar uma “caneta” na pelada. Faça uma cara de dor, bote a mão na perna e tire o seu time de campo.

                       


domingo, 23 de outubro de 2011

Fábrica de Ilusões

                        Gosto de ouvir o rádio. Ele é para mim emoção e criatividade. Todo locutor, de certa maneira, é um mágico, pois consegue passar uma cena em detalhes para os nossos olhos, que não a estão vendo. Mais do que a cena, consegue passar a emoção, fazendo a gente vibrar com o que ele diz.
                        Outro dia, indo trabalhar, ouvi o locutor de uma rádio comentar que o Axl Rose, vocalista da banda Guns and Roses, havia subido no palco do Rock in Rio debaixo de muita chuva, com uma jaqueta amarela, um chapéu na cabeça e grandes óculos escuros. Apesar da passagem dos anos e do peso bem acima, a empolgação do cantor era a mesma de outros festivais, de acordo com o locutor.
                        Fiquei com aquela cena na cabeça, pois o rádio tem dessas coisas: cria cenários em nossas mentes.
                        Quando cheguei ao trabalho, observei que um colega era a real descrição do que tinha ouvido no rádio: gordo, cabeludo, usando óculos e com uma jaqueta amarela. Não tive dúvidas: apesar de não ter visto o cantor, arrisquei com os olhos do rádio:
                        __ E aí, Axl Rose!
                        Pegou na hora, como fogo no paiol! Todo mundo começou a rir e a chamá-lo de Axl Rose. Virou o assunto do dia!
                        Eu não tinha visto, mas a mágica do rádio me mostrou!
                        Gosto de ouvir futebol no rádio. Pode parecer muito mais interessante assistir ao jogo na TV ou no estádio, mas o rádio tem os seus encantos, que o tornam indispensável numa transmissão de futebol. Mesmo que o jogo esteja passando na televisão, eu tiro o som do aparelho e fico ouvindo o rádio. Não tem jeito, pode parecer irracional, mas gosto daquela emoção que só o rádio me transmite.
                        Nada substitui a empolgação do locutor quando grita:
                        __ Passou raspando!
                        Mesmo que tenha passado a dois metros de distância.
                        __ Que jogo emocionante!
                        Mesmo que esteja um marasmo, com os dois times tocando a bola de lado.
                        __ Que drible maravilhoso!
                        Mesmo que tenha sido um lance comum.
                        Tem gente que não entende. E não adianta nem tentar. Não vão entender nunca. Rádio é passional: ou você gosta ou nem liga.
                        O rádio cria cenários. O rádio cria emoções. O rádio cria ídolos.
                        Quantos não ficaram fãs de um jogador, por causa de um locutor de rádio, que melhorou tanto seus lances?
                        Quantos não ficaram fãs de um locutor, por causa de suas frases, de suas manias, de sua vibração?
                        A televisão tem as suas qualidades, que são inquestionáveis, mas não passa a emoção do rádio. Nele, graças ao locutor que torce comigo, que vibra comigo, que chora comigo, meu time sempre joga bem.
                        No rádio, meu time é rápido, ofensivo, envolvente e vencedor. Nele, meu time sempre vence. E vence de forma arrasadora! Quando perde, claro, é por culpa do juiz, que não deu um pênalti claríssimo, mesmo que a TV mostre que foi apenas um lance duvidoso.
                        Pelas emoções que me transmite, prefiro os olhos mágicos do rádio.

sábado, 1 de outubro de 2011

Quero ser índio!



Sinto-me bastante desconfortável neste mundo capitalista. Não consigo entender o consumismo. Eu não preciso de um carro melhor para viver. Eu não preciso de muitos imóveis ou grandes extensões de terras. Eu não preciso de tanta tecnologia. Eu não preciso de roupa da moda. Sou simples e quero viver e morrer na simplicidade.

Mas o mundo a minha volta pensa diferente. Querem que eu troque meu carro. Querem que eu troque meu apartamento. Querem que eu troque minha televisão, meu telefone, meu computador. Querem que eu troque tudo. A obsolescência está programada para hoje. Tudo precisa ser trocado, mudado e atualizado, com a maior urgência. A caldeira do capitalismo não pode parar de queimar. Estão todos obcecados em ter, poder, parecer – numa dose cada vez maior.

Você precisa ter mais coisas, mais coisas e mais coisas. O telefone de ontem não serve para mais nada, apesar de estar funcionando perfeitamente. Suas roupas são fora da moda, apesar de estarem novas e limpas. Você precisa trocar seu computador, apesar dele lhe atender com eficiência. Mas é assim que tudo funciona. Não tente ser diferente, para não ficar isolado neste mundo tão moderno.

Você precisa estudar mais. Uma graduação não vale mais nada. Uma pós-graduação só é muito pouco. Saber inglês é obrigação. Você precisa estudar mais, estudar sempre, manter-se atualizado 24 horas por dia. Você precisa trabalhar mais. Oito horas por dia é pouco. Fazer o que lhe pedem, é pouco. Você precisa agir diferente. Você precisa ter iniciativa. Você precisa cuidar de sua imagem. Parecer é muito mais importante do que ser. Você precisa parecer brilhante, feliz, bonito e eficiente o tempo todo, 24 horas por dia. Se não for assim, coitado, alguém do outro lado do mundo vai tomar o seu lugar. Isto é a globalização e temos de nos adaptar rapidamente.

“Pagando bem, que mal tem”, é o lema do momento. O mais importante sempre é lucrar o seu, não importando que custo isso possa ter. Sentimentos, cultura, sabedoria, amizades, fraternidade – fazem parte de um passado muito atrasado, que não mais interessa. Importante mesmo é só o agora, de preferência com muito dinheiro, prazer e poder.

Por isso, resolvi: quero ser índio.

Índio trabalha o suficiente para comer. Não precisa acumular. Não precisa vender. Não precisa pagar. Não precisa de dinheiro. Não precisa de relógio. Trabalha para o próprio sustento e o de sua família. No resto do tempo, faz o que gosta de fazer, sem precisar dar satisfação ao chefe, ao vizinho, à sociedade.

Índio não destrói a natureza, pois é seu amigo. Conhece e respeita suas limitações. Tira dela só o que ela pode oferecer. Ele sabe muito bem que a natureza tem o seu tempo, seus segredos e suas maravilhas, reveladas apenas para aqueles que têm paciência e a tratam com o carinho merecido.

Índio sabe pescar, sabe caçar, sabe plantar. Vive plenamente integrado à natureza, que é sua casa, seu alimento e sua vida. Índio não precisa ter coisas, pois tem a natureza, com toda a sua imensidão, beleza e generosidade.

Eu não quero acumular coisas – quero acumular sentimentos.

Por isso, resolvi: vou largar tudo e virar índio.



sábado, 10 de setembro de 2011

Mãe de filho único

Dizem que o amor de mãe é infinito. Nada pode ser comparado a este amor. O que será, então, o amor de mãe de filho único? Infinito à enésima potência? Acho que nem a Física consegue explicar. É um verdadeiro mistério fora do alcance da ciência humana, como os gols de Pelé, como os versos de Drummond.

Tenho as minhas opiniões científicas sobre o assunto. Acho que o coração da mulher, após ter o primeiro filho, prepara-se de tempos em tempos, para a chegada dos próximos. É a natureza de mãe. Quando isso não acontece, esta energia amorosa vai se acumulando, vai crescendo, vai tomando força e vai ficando insuportável para o seu filho único. É a energia de uma bomba atômica acumulada em uma mulher em direção ao seu filho, indefeso diante de tanto amor.

Dizem que todo filho único é mimado. Grande injustiça com os pobres coitados. Filho único não é mimado. Ele apenas cede à força das circunstâncias. Ele luta muito. Mas não há como lutar contra a força atômica do amor de mãe de filho único. É uma luta em vão.

Quando se levanta para ir à escola, seu café com leite já está servido. Nem quente e nem frio. No ponto, como ele gosta. Não só o café, como o pão com o presunto, queijo e maionese, já estão a sua disposição, arrumadinhos sobre a mesa. Não adianta querer levantar da mesa, pois sua mãe lhe traz as bananas, a maçã e o guardanapo. Não adianta dizer que não quer, pois ela se antecipa. Quando ele pensa em dizer, quando ele olha em direção a, sua mãe já lhe trouxe o guardanapo.

Não é fácil ser filho único.

Chateado com sua primeira derrota no dia, o filho único volta para o quarto na intenção de arrumar a sua cama, mas é surpreendido, novamente, com a velocidade de sua mãe: o quarto já está arrumado e a sua roupa, sobre a cama, passadinha. Não tem mesmo jeito e ele vai para a escola, com um sentimento de falta de forças, revoltado na sua condição de filho único.

No retorno da aula, tem o firme desejo de limpar os seus tênis. Chega, tira as suas coisas, almoça. A rotina é a mesma. Não faz nenhum esforço, pois ela providencia tudo. Resolvido, pensa numa reação: “hoje, vou surpreendê-la. Não vou assistir aos programas de esporte. Logo depois do almoço, vou direto lavar os meus tênis”.

Acaba de almoçar e corre para o quarto. Nem escova os dentes. Procura daqui, procura dali, mas não encontra nada. Até imagina o que aconteceu, mas ainda tenta:

__ Mãe, cadê os meus tênis. Hoje, quero lavá-los.

__ Meu filho, eu já estou lavando eles. Pode assistir ao Globo Esporte. Deixa que eu mesma lavo. Nem estão tão sujos...

Tá vendo? O filho único é esforçado. Quer ser como todo mundo. Quer cuidar de suas próprias coisas, de sua própria vida. Mas é uma luta em vão.

Quando fica mais velho e começa a sair para arrumar namoradas, sua mãe sente-se ameaçada. Pela primeira vez na vida, não consegue controlar tudo. Mas ela não desiste nunca:

__ Meu filho, tá levando dinheiro?

__ Vê se não volta tarde, hein.

__ Tá levando blusa?

__ Muito cuidado com quem você anda, viu meu filho.

Não é fácil. Ainda dizem que ser filho único é a melhor coisa do mundo. Fala assim, quem não conhece a sua realidade.

Ao retornar para a casa, entra bem devagar, pé ante pé, para não acordar ninguém. Sente-se aliviado, quando sua mãe não está deitada no sofá, esperando por ele.

No dia seguinte, o sentimento de derrota aparece novamente:

__ Meu filho, por que você chegou ontem tão tarde?

__ Não cheguei tarde, mamãe.

__ Chegou sim, meu filho. Você chegou às três horas e oito minutos, que eu vi. Não adianta querer me enganar, tá! Não dormi até você chegar.

Quando leva uma namorada em casa, é o grande momento do confronto. Sua mãe não perdoa. Joga no ataque permanente e usa de todos os seus artefatos amorosos. Enquanto seu filho único assiste a um filme com a namorada na sala, ela está na cozinha, sempre alerta, tramando e preparando a munição.

__ Meu filho, quer que eu descasque umas laranjas pra você?

__ Não precisa, mamãe...

Cinco minutos depois, ela ataca novamente:

__ Meu filho, fiz aquele pudim que você gosta tanto! Olha só que beleza!

__ Não precisava, mamãe...

Não satisfeita, ela volta em definitivo, dez minutos depois e senta-se ao lado do filho, passando as mãos nos seus cabelos. Sem olhar para a desafeta, joga a bomba definitiva:

__ Nossa, como o meu neném está bonito! Você é o neném mais bonito do mundo!

Sorri, suspira, faz biquinho e belisca as duas bochechas de sua cria.

O filho único sente-se totalmente aniquilado e tem vontade de escorregar para debaixo do sofá.

Quando ela sai, vai correndo ao banheiro, morder a toalha de raiva e enxugar as lágrimas da vergonha.

Sua namorada, sozinha na sala, assustada e ferida, vendo a oportunidade, sai correndo e não volta nunca mais.

sábado, 6 de agosto de 2011

Um jogo para a História


Eu vi Santos e Flamengo, na semana passada.
Eu tive este privilégio!
Santos e Flamengo não fizeram um simples jogo de futebol. Eles deram um espetáculo, com todos os ingredientes do bom futebol: habilidade, raça, dribles, emoção, fantasia, surpresa, heróis, vilões e gols, muitos gols.
De um lado: Neymar, Ganso e companhia.
De outro: Ronaldinho Gaúcho, Thiago Neves e companhia.
Com certeza, o que há de melhor hoje no futebol brasileiro. Com tantos craques em campo, este jogo prometia!
Mas eu que naquela noite, já tinha assistido a vitória magra de 1x0 do Atlético MG sobre o Fluminense, além de ter ouvido o meu Cruzeiro perder de 2x0 para o fraco Atlético GO, já estava cansado de futebol ruim. Pensei comigo: “vou assistir só o começo do jogo e vou dormir”. Mas este jogo começou alucinante e eu fui adiando o meu sono.
Já no começo, Borges fez um zero. Pensei: “vou ficar mais um pouco”.
Logo depois, Neymar deu um passe de bicicleta e Borges fez 2x0.
Isso mesmo: Neymar deu um passe de bicicleta. Eu nunca tinha visto nada igual.
Estava iniciado o espetáculo.
Mas isto era só o começo.
Dez minutos depois, Neymar fez um lance impressionante, que eu não consigo descrever em palavras. Talvez, seja trabalho para um Drummond, um Armando Nogueira ou um Nelson Rodrigues. Só mesmo vendo. Neymar fez um gol de Pelé, na casa de Pelé!
Naquele momento, o Flamengo parecia acabado.
Mas o Flamengo tem Ronaldinho Gaúcho. E quem tem Ronaldinho Gaúcho em campo, nunca está entregue. Três minutos depois, ele diminuiu o placar: 3x1. E saiu com a bola debaixo dos braços, como que dizendo: o jogo ainda não acabou.
E o Deivid ainda conseguiu perder um gol inacreditável, sem goleiro.
Mas logo depois, Thiago Neves fez mais um: 3x2.
O jogo estava quente, muito quente. E para esquentar mais ainda, o jogo precisava de um vilão. Todo espetáculo tem o seu vilão. Foi o que aconteceu. Neymar disparou pela ponta esquerda e sofreu pênalti. Elano pegou a bola para bater. E bateu com displicência, com uma cavadinha no estilo Loco Abreu. Felipe defendeu na maior tranquilidade e ainda fez embaixadinhas.
Isso mesmo: o goleiro do Flamengo defendeu o pênalti e saiu fazendo embaixadinhas. Eu também nunca tinha visto nada igual!
Realmente, diante de tão grande espetáculo, eu não podia ir dormir.
O Santos poderia ter feito 4x2 e matado a reação do Flamengo. Mas não fez e o Flamengo empatou com um gol de Deivid no fim do primeiro tempo, escorando de cabeça uma cobrança de escanteio.
Fim do primeiro tempo: Santos 3 x 3 Flamengo. O espetáculo poderia acabar ali e já entraria para a história. Mas ainda tinha todo um segundo ato deste espetáculo pela frente. E ele prometia muito.
O segundo tempo começou quente como o primeiro e logo no começo, Neymar fez mais um belo gol, invadindo a área e tocando com leveza por cima do goleiro: 4x3.
O jogo continuou agitado e aos 22 minutos do segundo tempo viria a marca do herói. Ronaldinho Gaúcho recebeu pela ponta direita, deu um drible desconcertante e iria fazer um golaço, mas sofreu falta. Muita gente pensou: que pena, ele iria fazer um golaço. Mas a surpresa maior estava por vir: na cobrança da falta, quando a barreira pulou, Ronaldinho tocou fraquinho, por baixo dela, no cantinho do goleiro, que nem se mexeu. Outro golaço, com a marca surpreendente de um gênio: Ronaldinho Gaúcho! 4x4!
E ainda teve tempo para mais. Aos 36 minutos do segundo tempo, num contra-ataque, Ronaldinho invadiu a área e fez o seu terceiro gol, dando números finais ao espetáculo: Santos 4 x 5 Flamengo!
Neste jogo, não importa quem venceu. Venceram os dois times. Venceu o futebol brasileiro. Venceu a magia do futebol que encanta o mundo inteiro.
Para quem dizia que o futebol arte brasileiro estava acabado e que o Brasil estava vivendo uma entressafra de craques, este jogo deu a resposta.

O Brasil foi, é e sempre será o país dos craques de futebol. Em nossos campos, sempre haverá espaço para os dribles de garrincha, as tabelinhas de Coutinho e Pelé, a habilidade de um Alex, as cobranças de falta perfeitas de um Zico, a inteligência de um Tostão, os gols de um Romário, as jogadas surpreendentes de um Ronaldinho Gaúcho, a genialidade de um Pelé.

Foi um espetáculo. Foi uma virada histórica. Foi uma beleza plástica para os olhos e corações que amam o futebol.

Foi um grande encontro de reis na casa do maior de todos os reis.

Fui dormir uma noite de sonhos.

quarta-feira, 20 de julho de 2011

Na avenida Amazonas nasce um sabiá

Mamãe-sabiá cerca de todos os cuidados seu ninho numa árvore na Avenida Amazonas, naquele início de manhã azul de primavera, indiferente ao mundo agitado dos homens à sua volta. Seu mundo é o seu ninho! De repente, um dos ovos se abre num momento mágico e ela não se aguenta de alegria: nasce seu primeiro filhote-sabiá! E como se tivesse marcado um gol num clássico de Minerão lotado, a mamãe-sabiá voa frenética para o alto do pirulito na Praça Sete, para cantar bem alto a todos que passam o seu grito de alegria!
Homens, mulheres, carros, motos, bicicletas e carroças passam, com toda a pressa do mundo, pela Praça Sete, em busca do pão de cada dia. Passa o bancário, já estressado, às oito da manhã. Passa o vendedor de imóveis pensando nas vendas que têm de fazer. Passa o médico rezando para que aquela cirurgia seja feliz. Passa a senhora gorda com um cartão de loteria, falando sozinha. Até o mendigo passa rápido, tem pressa de chegar ao seu ponto, pois a concorrência não perde tempo. Passam muitos, grandes e pequenos, pretos e brancos, pobres e ricos, tristes e felizes. Enquanto no alto do pirulito, a mamãe-sabiá canta cada vez mais alto. Quer chamar a atenção de todos para o grande acontecimento de sua vida! Mas ninguém lhe dá atenção. Olham todos para baixo, como se tivessem vergonha de viver ou como se o umbigo fosse o centro do universo.

Mas a mamãe-sabiá não se incomoda com a indiferença alheia. Está feliz, de peito inflado e canta pelo prazer de cantar. No fundo, não consegue esconder, tem aquela esperança de receber atenção, da mãe que precisa mostrar a sua cria. Enquanto isso, subindo devagar pela rua Rio de Janeiro, vem desfilar pela Praça, como um raio de luz, a morena de Minas, de lábios carnudos e vestido de flor, cabelos compridos e aqueles olhos sorridentes de quem sabe ter o invejado poder de possuir todos os homens aos seus pés. Mamãe-sabiá se anima e pula na primeira árvore mais perto da moça. Todavia, a morena de Minas passa sem olhar de lado. Ela tem seus olhos negros em sonhos de amor e não vê o mundo das coisas da terra. Mamãe-sabiá não desiste, volta para o alto do pirulito. E canta, canta, canta...

Pela Praça Sete, numa manhã azul de primavera, passa Minas inteira. Passa a velha de lenço na cabeça, jeito de interior, segurando assustada uma bolsa surrada, com medo de assalto. Passa a bela jovem de piercing no nariz e fone de ouvido, surda para as coisas do mundo. Passa o executivo ao celular, falando longe, do outro lado do mundo, esquecido do que se passa a sua volta. Passa o jovem padre de batina preta e colarinho, como naqueles tempos antigos dos padres severos do interior. E passa rezando num terço de grandes contas, como se orasse por todos os pecados do mundo, em direção à Igreja de São José. Passa o bêbado, naquele estado de embriaguês permanente, pedindo vinte centavos e assumindo, publicamente, que aquele dinheiro é sim para a cachaça, demonstrando, mais uma vez, a honestidade do povo de Minas. Ah! E como passam tantos personagens numa manhã dessas terras alterosas, nesse cenário azul de montanhas de inspiração!

Subindo pela avenida Amazonas, calmamente, um homem caminha de olho nos prédios, de olho nos carros, de olho nos rostos das pessoas, como se tivesse saído, naquele momento, de uma solitária prisão de dez anos. Atento a tudo, olha para o alto do pirulito da Praça Sete. Vê num jogo de luzes caramelo-laranja a mamãe-sabiá de peito erguido e, surpreso, com um sorriso no canto dos lábios, fala baixinho consigo mesmo: ah, o sabiá! Diferente das pessoas, ele está alegre, como se a vida fosse o mais importante! Fica animado e pensa em parar o jovem de mochila nas costas que vai a sua frente, para que ele também veja a alegria contagiante do sabiá. Desiste da idéia. De outras experiências, já sabe até a resposta: você é louco! Você é poeta! Não deve ter nada de útil pra fazer na vida! Deixa o jovem ir embora, na sua pressa solitária, sem sentido, sem alegria, sem poesia. Afinal, pensa com aquele olhar de vaidade, a poesia não é mesmo para os comuns, mas somente para os loucos...



sábado, 9 de julho de 2011

Vamos ler os cronistas!

Tenho o bom costume de ler jornais e revistas. Aliás, leio tudo o que aparece em minhas mãos, das bulas de remédios aos livros de Filosofia. Pelo menos, costumo folhear rapidamente as revistas e os jornais. Às vezes, confesso, fica até um pouco difícil e desanimador lê-los por completo, porque são muitas as notícias ruins: assassinatos, corrupção, drogas, estupidez, violência de todos os tipos, ignorância, vaidade, inveja, etc.


Ultimamente, não estou com muita paciência com a dureza de nossa realidade, de ver a vida como ela é. Passo pela capa do jornal sem nenhum interesse e vou direto aos cronistas. São mesmo os cronistas que me interessam. Eles não falam deste mundo. Falam de um tempo de infância, misturando poesia, alegria, fantasia, ternura e sonhos. Esta mistura forma o tempero ideal para mim, bem do jeito que eu gosto. É ali que me encontro.

Estou me sentindo cada vez mais deslocado no mundo real, cansado de muitas coisas. Viver a realidade tem ficado complicado para mim, onde o ter-parecer-poder, é o que importa. Não consigo viver tranquilamente neste universo das aparências, onde a hipocrisia é o nosso prato de cada dia, que temos de engolir correndo e a seco. Falta-me certo jogo de cintura para a falsidade, tenho de reconhecer. Você precisa ser mais “político”, já me disseram muitas vezes. Mas como disse em outras oportunidades, sou muito mais pelo ser-saber-sentir. O que não é nem um pouco fácil, pois a dura realidade, invariavelmente, é implacável com quem se coloca assim tão fora do sistema dominante.

Por isso, ao abrir um jornal ultimamente, não perco o meu tempo, vou direito neles: os cronistas. Da realidade, confesso, estou de saco-cheio. Ali, no mundo dos cronistas, encontro o que procuro e o que me deixa feliz: boa dose de fantasia. Portanto, faço aqui a minha campanha: vamos ler os cronistas! Vamos deixar que a fantasia deste mundo de criança faça parte de nosso dia-a-dia e apague um pouco a dureza de nossa vida mesquinha.

Acho que estamos precisando de um pouco de delicadeza.

domingo, 19 de junho de 2011

O que é demais nunca é o bastante

Em 11 de outubro de 1996, morria de AIDS um dos mais importantes poetas de nossa música, Renato Russo, o líder da Legião Urbana. Infelizmente, para tristeza de todos nós, morreu cedo demais, aos 36 anos. Sua despedida precoce deixou uma lacuna irreparável na música brasileira, que talvez, nunca mais será preenchida. Suas letras intrigantes e diretas continuam atuais, surpreendentes e revolucionárias.

Hoje, depois de um bom tempo, peguei um CD da Legião Urbana para ouvir. Apesar de tantas vezes ouvidas, lidas e cantadas, suas letras ainda trazem algo de novo e nos fazem pensar. Ouvi, ouvi de novo e continuo ainda com a belíssima “O Teatro dos Vampiros” na cabeça. Ah, quantas saudades do talento de Renato Russo! Hoje, que tristeza, o pobre repertório da música brasileira baseia-se no apelo sexual do funk, na choradeira do sertanejo, na irritante banda calypso e em outras expressões musicais de péssima qualidade.

Somente a letra de “O Teatro dos Vampiros” vale uma tese de Doutorado. Nela, o poeta Renato Russo nos revela com tremenda sensibilidade: “o que é demais nunca é o bastante”. Nada mais verdadeiro! Nada mais atual! Vivemos na sociedade da ostentação, do hedonismo e do consumismo exacerbados. É preciso ter, parecer e exibir cada vez mais. Somos insaciáveis. Somos indesejáveis. Somos inconsequentes. O nosso olho grande é maior do que o mundo! Queremos tudo e queremos agora! Como o poeta mesmo disse: “a primeira vez é sempre a última chance”. Um sentimento maluco de urgência domina tudo. O consumismo nos deixa alucinado e fora da realidade. O modelo do ano passado já não serve mais, está obsoleto. Só o novo, o moderno e o original satisfazem a nossa loucura. O que também foi captado pelo olhar crítico do poeta através do verso: “a cada hora que passa envelhecemos dez semanas”.

Mas nada dura para sempre. Nem mesmo a exuberância. Nem mesmo a ilusão. Vivemos há pouco uma grave crise financeira, que levou o mundo todo ao desespero. Crise esta causada pelo consumismo monstruoso da maior potência capitalista mundial, os Estados Unidos da América. Por causa da loucura dos americanos alastrada para todo o mundo, a economia capitalista está saturada, a natureza está saturada, a dignidade humana está saturada. Estamos perdidos no mundo das incertezas.

As perguntas que mais se fizeram neste momento de angústia foram as seguintes: onde vamos parar? Até quando vai esta crise? Mas estes não são os melhores questionamentos. As perguntas mais inteligentes seriam as seguintes: o que será de nós depois da crise? E o que será do planeta? Ou seja, este terremoto veio para que possamos parar um pouco com a nossa loucura e pensar no que estamos fazendo de nossas vidas e do futuro do planeta. É o momento do basta. É o momento da mudança. Não podemos mais basear a nossa vida no consumismo desnecessário, enquanto boa parte da população mundial passa fome. Precisamos rever nossos conceitos, antes que o planeta se esgote por completo e todos nós sejamos exterminados por causa de nosso egoísmo. Para encerrar, um pouco mais da beleza de “O Teatro dos Vampiros” de Renato Russo: “e de pensar nisso tudo, eu, homem feito, tive medo e não consegui dormir.”

sábado, 28 de maio de 2011

A força do silêncio

Outro dia, conversando com uma amiga, perguntei: “conhece os Engenheiros do Hawaii?” Ao que ela me respondeu: “não conheço. Não é de meu tempo.” Para piorar, ainda emendou: “Mas Luan Santana, eu conheço!” Fiquei chocado. A nossa diferença de idade nem é tão grande assim, mas Engenheiros do Hawaii, Legião Urbana, Titãs, Paralamas do Sucesso, não são do tempo dela. Do tempo dela são: Luan Santana, Reginho e Banda Surpresa, Parangolé, Banda Calypso, Bruno e Marrone, além de todos os MC´s do funk e as duplas sertanejas que andam por aí, empobrecendo nossa música e poluindo nossos ouvidos.


Vejam que nem falei da tão rica MPB, de Roberto Carlos, Caetano Veloso, Chico Buarque, Milton Nascimento, Gilberto Gil e tantos outros. Não falei de música clássica e nem dos grandes nomes do rock internacional. Não precisava e nem valia à pena. Certamente, também não são do tempo dela.

Sou da geração X, como dizem os estudiosos do assunto, pois nasci antes de 1980. Minha interlocutora é da geração Y, nascidos entre 1980 e 1995. Portanto, não estou falando de uma diferença de 50 anos, mas apenas de uns cinco ou seis. Mesmo assim, apenas no conceito musical, a diferença entre nossas “gerações” é assustadora. A nova geração não quer saber de letra. A nova geração não quer saber de música. Sinceramente, não sei o que as gerações Y e Z (nascidos pós-1995) procuram numa música. Será um refrão fácil? Será o escândalo? Será o emburrecimento? Minha capacidade de abstração não consegue entender.

Evidentemente, não estou generalizando. Em toda regra, claro, existem exceções. Entre os mais velhos, existem os que gostam do que está sendo tocado hoje. E entre os mais jovens, felizmente, existem os que gostam da boa música “velha”. Mas é preocupante o momento atual de nossa tão rica música brasileira. Entre numa loja de discos, ouça uma rádio popular, fique até tarde numa festa e você vai compreender a minha preocupação.

Não vou me estender muito neste assunto. O caso é polêmico demais. É como areia movediça, que quanto mais você entra, pior fica a sua situação. Afinal, gosto cada um tem o seu. Além disso, a sabedoria popular nos ensina que não devemos entrar em assuntos muito passionais, como futebol, política, religião e preferências musicais. Cada um tem a sua paixão. Mesmo assim, não fiquei calado. Botei aqui o meu dedo na ferida.

Para a minha amiga e para aqueles que não conhecem, deixo aqui um trecho da letra “A força do silêncio”, de Humberto Gessinger, líder dos Engenheiros do Hawaii e, na minha opinião, o melhor letrista do Rock Brasil.





Pra que tanta inteligência?

Por que tanta emoção?

Qualquer coisa em excesso faz sucesso meu irmão

Quanta gente com certeza

Tanta gente sem noção

Em excesso até fracasso faz sucesso por aí

E eu tenho fé na força do silêncio



Se as cores vão berrando num sol ensurdecedor

Fecho os olhos... Outro mundo

Vou morar no interior

Transbordou a mesa ao lado

Um tsunami arrasador

Fecho os olhos... Outro mundo

Vou morar no interior

Eu tenho fé na força do silêncio



A fé que me faz

Aceitar o tempo

Muito além dos jornais

E assim mergulhar no escuro

Pular o muro

Pra onda passar

A fé que me faz sobreviver

À onda

Eu tenho fé na força do silêncio